Iniciativa resultou de articulação entre Sedecti e Opan e teve transmissão via satélite
Com base nas recomendações oficiais para o manejo clínico do novo coronavírus e com o intuito de conter o avanço da Covid-19 nos territórios indígenas, o Governo do Amazonas promoveu a primeira transmissão do Curso de Combate à Covid-19 para Agentes Indígenas de Saúde no Amazonas, com a participação 78 Agentes Indígenas de Saúde (AIS), em conjunto com lideranças de 23 comunidades da região do Alto Solimões. O curso foi totalmente transmitido via satélite pelo Sistema Internet Pela Televisão (IPTV) ligado à Secretaria de Estado de Educação e Desporto, via Centro de Mídias do Amazonas (Cemeam).
No total, 15.621 indígenas foram beneficiados indiretamente pelo curso (população das comunidades atendidas pelos AISs). Comunidades das etnias kokama e tikuna localizadas nos municípios de Amaturá, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Santo Antônio do Içá, Tabatinga e Tonantins tiveram representantes participando do curso.
A iniciativa surgiu a partir de uma articulação entre o Núcleo para o Desenvolvimento e Integração da Faixa de Fronteira do Estado do Amazonas (Niffam) da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti) e a organização indigenista Operação Amazônia Nativa (Opan).
A primeira transmissão do curso aconteceu de 14 a 17 de julho de 2020, atendendo as comunidades da região do Alto Solimões. Com os bons resultados obtidos na primeira fase, a próxima transmissão do curso está programada para o período dos dias 4 a 7 de agosto, no horário de 14h às 17h, com o uso da mesma tecnologia.
A ação tem como proposta buscar alternativas de comunicação que pudessem reduzir o impacto da Covid-19 nas comunidades indígenas do interior do Amazonas, especialmente em regiões mais distantes da capital do estado, onde a informação demora a chegar.
A secretária executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação, Tatiana Schor, destaca que o Niffam “passa a ter uma característica muito forte de fomento ao sistema de CT&I no Amazonas, e o curso com os agentes indígenas faz parte desse processo”.
“Entendemos que a integração e o desenvolvimento da faixa de fronteira vai para além das questões relacionadas tradicionalmente à fronteira, que são as áreas de segurança e da defesa, mas que a soberania nacional está relacionada também ao fortalecimento do conhecimento na fronteira”, esclareceu a secretária.
A coordenadora do Niffam à época, Maria Rosa Darrigo, que foi uma das responsáveis pela organização e coordenação do curso, destaca a iniciativa como muito positiva para as comunidades indígenas.
“O curso teve uma proposta inovadora. O conteúdo e conhecimento foram elaborados por profissionais de saúde, sempre levando em consideração o contexto indígena. Também contamos com depoimentos e conhecimentos de importantes profissionais indígenas de saúde que estão em atuação direta contra a Covid-19. Acreditamos que essa ação é fundamental para que a comunicação aconteça e faça a diferença numa situação de emergência como a que estamos vivendo hoje”, enfatiza Rosa Darrigo.
Além da Sedecti e Opan, a iniciativa contou com o esforço coletivo para a sua realização da Escola de Enfermagem de Manaus (EEM) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e da Secretaria de Educação e Desporto, por meio da gerência de Educação Escolar Indígena e do Cemeam. As entidades e órgãos que apoiaram a iniciativa foram Ministério Público Federal no Amazonas (MPF-AM), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Alto Solimões.
Conhecimento indígena – Todo o conteúdo do curso foi voltado especificamente para os AISs em função da importância desses agentes para disseminar, da melhor forma, as informações que podem ajudar na reorganização das comunidades para que possam combater a pandemia, além de contarem com o apoio das lideranças indígenas.
Durante o Curso de Combate à Covid-19 para Agentes Indígenas de Saúde no Amazonas, foram apresentadas informações e orientações sobre como cuidar dos doentes e de como identificar os sintomas que agravam a Covid-19. Os instrutores também abordaram os novos procedimentos e cuidados que os agentes devem adotar na rotina de trabalho do decorrer da pandemia.
O curso também teve relatos e contribuições importantes, dentre elas, as participações do antropólogo João Paulo Barreto, que é da etnia tukano e idealizador e coordenador do Bahserikowi’i – Centro de Medicina Indígena. O evento teve ainda a partilha de conhecimento das técnicas de enfermagem do Parque das Tribos, Alcinéia Albuquerque Piratapuia, Mari Melgueiro Baré e Vanda Witoto; das representantes da Associação de Mulheres Indígenas Sateré Mawé (AMISM), Regina Sateré Mawé e Sâmela Sateré Mawé, além da professora da Gerência de Educação Escolar Indígena da Secretaria de Educação e Desporto, Cristina Baré.
Comunidades isoladas – Existem 240 comunidades indígenas na região do Alto Solimões, no sudoeste do Amazonas. A maioria é de difícil acesso, e para se chegar a essas comunidades geralmente são necessários dias de viagens. Considerando essa dificuldade logística e a segurança da saúde das populações indígenas, a coordenação do curso optou por fazer as aulas todas por meio de vídeo, com informações produzidas por profissionais de saúde para serem transmitidas diretamente às comunidades pelo Sistema IPTV da Secretaria de Educação.
“O curso a distância foi elaborado devido à impossibilidade de se realizar uma capacitação presencial nas aldeias, ou mesmo de promover o deslocamento dos Agentes Indígenas de Saúde para as áreas urbanas dos municípios, o que aumentaria o risco de contágio dessas populações. Durante o curso, os participantes foram orientados a evitar aglomerações e a seguir as recomendações dos órgãos oficiais de saúde, como o uso de máscaras”, reforçou Rosa Darrigo, do Niffam.
Para o indigenista da Opan, Renato Rocha, a pandemia da Covid-19 “evidenciou a urgência de encarar de frente desafios históricos enfrentados pelas populações tradicionais do Amazonas”.
“A partir dessa iniciativa, que só foi possível devido à cooperação solidária entre diversos atores, pretendemos chamar a atenção para essas questões e contribuir para o enfrentamento da Covid-19 nos territórios indígenas do Amazonas”, enfatiza Rocha.
Participação – Além de acompanhar as videoaulas em suas comunidades, os agentes e as lideranças indígenas puderam tirar dúvidas ao vivo com profissionais da saúde que estavam presentes nos estúdios do Centro de Mídias, em Manaus. Para isso, foi fundamental a parceria com a Escola de Enfermagem da Ufam, que também ajudou na elaboração do curso com a participação da professora doutora Noeli das Neves Toledo, que é enfermeira e ministra as disciplinas de Gestão, Saúde e Enfermagem e Saúde das Populações Indígenas.
“A iniciativa do curso foi primordial para as ações de prevenção e controle do avanço da Covid-19 junto aos povos indígenas, porque eles são muito vulneráveis e a maioria não possui acesso a informações seguras e confiáveis. A estratégia de focar nos agentes de saúde foi essencial porque eles são o nosso primeiro elo com as comunidades e, chegando a eles, podemos tocar e sensibilizar a outros membros da comunidade. Essa iniciativa foi vital para evitar que mais povos indígenas sejam dizimados, assim como aconteceu com outras endemias no passado”, ressalta Noeli Toledo.
A gerente do Departamento de Extensão Tecnológica e Inovação da Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), Karoline Barros, avalia como ponto importante do curso a interação dos participantes com os profissionais da saúde.
“Foi muito interessante a interatividade no curso, a capacidade de receber dúvidas e respondê-las ao vivo. Foram diversas perguntas feitas durante as transmissões, algumas muito básicas sobre o vírus, mesmo nesse momento já avançado da pandemia. Isso reforça a necessidade de cursos como este e de veiculação de informação de qualidade pautada na ciência”, aponta Karoline.
FOTOS: Divulgação/Sedecti