BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Prestigiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que já o visitou pelo menos duas ocasiões desde que foi eleito, o COT (Comando de Operações Táticas), a tropa de elite da Polícia Federal, é alvo de questionamento interno.
O grupamento tático foi destacado no mês passado para ajudar em ações de Segurança Pública no município de Nova Olinda do Norte, região do Amazonas conflagrada por conflitos entres policiais militares, traficantes de drogas e comunidades indígenas.
Em documento do dia 27 de agosto endereçado ao gabinete do diretor-geral, Rolando Souza, e à diretoria-executiva, o superintendente regional no Amazonas, delegado Alexandre Silva Saraiva, autoridade que responde pela corporação no estado, acusou o COT de não atuar satisfatoriamente no caso.
“Se o objetivo de criar e manter um grupo tático – o que, a toda evidência, não é algo econômico – é poder empregá-lo em situações conflituosas e críticas que demandam maior expertise em termos de segurança”, afirmou o superintendente.
E prosseguiu: “Os eventos aqui narrados revelam que o investimento feito pela PF, definitivamente, no caso vertente, não obteve o resultado esperado.”
Nos últimos dias, conforme revelou o jornal Folha de S.Paulo na quarta-feira (2), Saraiva e Marcos Teixeira, chefe do COT, trocaram acusações em sistema interno de comunicação em torno do assunto.
Questionada pela reportagem a respeito de eventuais providências para averiguar os fatos, a direção da PF não se manifestou até a conclusão desta edição.
O superintendente regional relata no documento de três páginas encaminhado à cúpula da corporação em Brasília que foram enviados 30 policiais federais a Nova Olinda do Norte, distante 134 km de Manaus, para ações de combate à violência local no início do mês de agosto.
Banhada pelo rio Abacaxis, a região vive há semanas uma onda de conflitos que resultou no assassinato de pelo menos dez pessoas. Entre as vítimas estão um indígena, um casal de ribeirinhos, um adolescente e dois policiais militares.
O COT foi acionado para auxiliar na proteção aos policiais federais que lá estavam conduzindo investigações por determinação da Justiça, mas Saraiva afirma que as ações foram “comprometidas e prejudicadas pela falta de apoio e cooperação das equipes do COT”.
De acordo com o superintendente, duas equipes do COT foram enviadas à região. Uma delas, afirmou ele, ficou por menos de quatro dias e, sob o pretexto de não haver segurança suficiente, após o resgate dos corpos de três das vítimas dos conflitos, se recusou a permanecer na região.
Uma segunda equipe do COT teria ficado seis dias e ao retornar para Manaus, frisou Saraiva, o grupo levou uma lancha blindada, deixando com segurança comprometida as demais equipes de policiais e uma comitiva do Conselho Nacional dos Direitos Humanos), órgão ligado ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Saraiva disse que “vultosas quantias” foram empregadas com o deslocamento do COT, incluindo o uso de helicóptero do Exército e jatinho da PF. “Não obstante os elevados custos, a equipe do COT não deu o retorno esperado com sua presença tímida e passageira na região”, afirmou.
Na batalha interna de versões, revelada pelo Painel, o chefe do COT afirmou que a Superintendência da PF no Amazonas agiu sem planejamento mínimo, utilizou de maneira equivocada equipamentos e classificou a ação de pseudo-operação.
O COT é formado por policiais treinados para atuar em situações extremas, de resgate de reféns a assalto a bancos, de prisão de traficantes internacionais e operações de reintegração de terras indígenas.
A unidade está subordinada em última instância ao diretor-geral da PF, mas, por delegação, o diretor-executivo, número 2 na estrutura da corporação, decide em quais ações o grupo deve ser empregado –como, por exemplo, na contenção de distúrbios.