Paula de Souza, 36 anos, é caseira e reservada. Gosta de fazer pudim de paçoca e prepara picolé e bolinho para receber os enteados, de sete e nove anos, filhos do “namorido” Rony Cecconello, com quem está há um ano e três meses. E não deixa de treinar nem um dia, assim como a cantora Paula Fernandes, sua persona mais famosa, desde que o talento mirim de Sete Lagoas (MG) se manifestou.
Usar um sobrenome para falar de sua vida pessoal e outro para a profissional é a estratégia de cantora sertaneja —que acumula quase 14 milhões de fãs só em seu perfil no Facebook— para manter o equilíbrio. As duas Paulas, no entanto, só entenderam melhor como era “ser normal”, por assim dizer, quando o mundo passou a enfrentar a quarentena imposta pela pandemia do coronavírus.
“Se por um lado a pandemia isolou a maioria das pessoas, assim como eu, de certa forma, me libertou também. É contraditório, mas, como trabalho desde sempre, o fato de as pessoas estarem presas dentro de casa me proporcionou um tempo que eu não tinha para viver o normal”, diz a artista.
Não que ela não tenha medo das consequências e incertezas trazidas pelo vírus e que não sinta falta dos palcos e dos abraços. Mas, no meio disso tudo, Paula acabou sendo um pouco gente como a gente:
“Existe uma pessoa que agora tem rotina, que tem horário para comer, que tem fim de semana. Que se libertou de um monte de coisas. Está sendo libertador. Eu estou usando realmente cada segundo em casa para viver. E aproveitando a oportunidade de experimentar uma vida como essa”, diz Paula.
Poder ser a mulher da casa
Uma das novidades é a vida de casada. Sim, sem igreja, troca de anéis ou festa, e sem cerimônias, Paula vinha terminando de trazer as coisas de Belo Horizonte (MG), onde vivia, para a casa de Rony, em São Paulo, antes da pandemia:
“Acho que [a quarentena] acelerou o processo de a gente ficar mais junto e estamos tomando todos os cuidados. Aqui, a gente é bem organizado e disciplinado em relação à pandemia. Então estamos nos cuidando e cuidando um do outro. E ele tem dois filhos, com guarda compartilhada, então cuidamos também por isso”, diz a cantora.
“Tentamos tornar o ambiente o mais saudável possível. Eles fazem aulas pela internet e eu ajudo no que posso. Essa coisa de poder ser a mulher da casa, sabe? Coisas que eu não fazia antes porque não tinha tempo.”
A rotina funciona tal qual à de um casamento, ela conta.
“As pessoas ficam nessa espera de ‘Ah, porque vai casar, não vai casar’… Eu já estou casada. Vivendo sob o mesmo teto, com problemas, com alegrias, com as dificuldades de um casal normal. Ainda mais em tempos de pandemia. Eu sinto até que isso nos aproximou mais, porque, com a covid, parece que ou separa ou une de vez. A gente tem crescido com isso. Tem sido positivo para o nosso relacionamento esse convívio mais intenso.”
Trabalho incessante e depressão
Recentemente, a cantora foi indicada mais uma vez ao Grammy Latino, desta vez com o projeto “Origens”, gravado no ano passado, na cidade em que nasceu, em Minas, na categoria melhor álbum de música sertaneja.
De sua origem vieram o trabalho incessante e também as consequências de quem começou a cantar aos oito anos e não sabia o que era a vida sem trabalhar. Na adolescência, teve depressão e quase cometeu suicídio. Foi salva pela mãe.
“Você é de origem simples, tem uma vida simples, quase miserável, numa cidade sem muito recurso. E você tem um talento dentro de casa. O que você vai fazer com esse talento?”, diz, sobre os pais. “Investir do jeito que sabe foi o que a minha família fez. Quando eu faço o balanço, dentro do meu coração, eu nunca consegui culpá-los pelo que aconteceu comigo, porque todos somos vítimas de uma situação.”
O ápice da depressão se deu quando, aos 18 anos, havia gravado um CD e estava naquela espera pela repercussão.
“Meu estilo de vida era muito fechado, sempre foi muito para o trabalho. Então faltou essa coisa do lazer, de viajar, passear, fazer uma coisa diferente, que seja ir ao cinema. Fui ao cinema com 15 anos, conhecer a praia, quase aos 16. Enquanto muita coisa chegou precocemente para mim, outras não chegaram. Fui namorar pela primeira vez com quase 20 anos, dei meu primeiro beijo com quase 20 anos, porque sempre foquei minha atenção e tudo em trabalho.”
Na fase mais deprimida, Paula se sentia uma bomba atômica, mas não sabia o porquê, não conseguia entender. Ela tinha taquicardia, se lembra de ter ido várias vezes ao hospital com medo de ter algum problema no coração —mas não tinha.