Um estudo científico publicado na revista “Scientia Amazonia” relata que toxinas presentes no veneno da cascavel amazônica, variedade “amarela”, são capazes de matar bactérias e linhagens de células cancerígenas de tumores de pele, mama e colorretal.
Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), os pesquisadores observaram que as toxinas isoladas desse veneno ofídico podem, futuramente, originar matéria-prima para a produção de medicamentos antibacterianos e anticancerígenos.
O projeto “Potencial antibacteriano e citotóxico dos venenos variedades ‘amarela’ e ‘branca’ da Serpente Amazônica Crotalus durissus ruruima” foi desenvolvido na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte (MG), e amparado pelo Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados para o Interior do Estado do Amazonas (RH-Interiorização–Fluxo Contínuo), Edital nº 003/2014.
A serpente amazônica Crotalus durissus ruruima é uma das cinco subespécies de cascavel existentes no território brasileiro, sendo encontrada no estado de Roraima, região Norte do Brasil. O veneno do animal apresentou atividade antibacteriana contra a bactéria Gram-positiva Staphylococcus aureus, e ação citotóxica contra linhagens de células tumorais.
Aplicação – De acordo com a pesquisadora do projeto, Ilia Santos, os venenos de serpentes brasileiras têm sido alvo de uma série de estudos que resultaram, por exemplo, no desenvolvimento de medicamentos como o Captopril (anti-hipertensivo) e o Batroxobin (anti-hemorrágico), derivados de uma substância isolada do veneno de jararaca.
“O Captopril foi o primeiro fármaco proveniente de veneno de serpente a chegar ao mercado farmacêutico. Trata-se de um potente inibidor da enzima conversora de angiotensina (ECA), utilizado para tratar hipertensão arterial”, disse Ilia Santos.
Por isso, o estudo dos constituintes presentes nos venenos tem se mostrado importante ferramenta biotecnológica para o desenvolvimento de protótipos de novas drogas para uso terapêutico.
Testes – A pesquisadora testou (in vitro) os efeitos das propriedades medicinais das toxinas isoladas da serpente sobre as células de melanoma, adecarcinoma de mama, carcinoma colorretal e fibroblasto humano e notou que a substância foi capaz de matar as células cancerígenas num período de 72 horas de tratamento.
As toxinas tiveram ação bactericida sobre as bactérias do gênero Staphylococcus aureus, causadores de infecções pulmonares, cutâneas entre outras. As estirpes do microrganismo, em contato com a substância, morreram no período de 24 horas. Por isso, o achado sugere que o composto possui um constituinte que pode atuar como antibiótico.
Diversos trabalhos foram realizados com os venenos ofídicos brutos ou com frações isoladas dos venenos das subespécies de C. durissus. Os experimentos demonstraram variedades de ações farmacológicas, com destaque para as atividades antifúngicas, antileishmanias, antiparasitária, antivirais, antibacterianas e antitumorais.
Importância – Atualmente, o uso de quimioterápicos é a opção predominante para a terapia do câncer. No entanto, um dos principais problemas é que os pacientes muitas vezes não respondem ou, eventualmente, desenvolvem resistência à medicação após o tratamento inicial.
Essa limitação levou ao aumento da busca por substâncias que auxiliem no tratamento e cura do câncer a partir de fontes naturais, como plantas e animais. A biodiversidade de venenos os torna fonte única, a partir da qual podem ser desenvolvidas novas terapias.
Com relação à ação do composto, sobre os gêneros de bactérias, a descoberta poderá ajudar a combater a crescente resistência desses microrganismos aos antibióticos, bem como suprir a carência por novos remédios.
Por isso, o estudo dos constituintes dos venenos ofídicos pode contribuir para a descoberta de outros compostos para o desenvolvimento de novos fármacos para o tratamento dessas enfermidades.
Estudos realizados durante as três últimas décadas, em busca de propriedades anticâncer em venenos, levaram à descoberta de moléculas promissoras com essa atividade, algumas das quais estão em ensaios clínicos e poderão se tornar futuramente drogas terapêuticas.
RH-Interiorização – O Programa RH-Interiorização foi substituído pelo Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos para o Interior do Estado do Amazonas (Proint).
O objetivo é conceder bolsa de mestrado e doutorado a profissionais graduados residentes no interior do estado do Amazonas há no mínimo 4 (quatro) anos ou que mantenham relação de trabalho ou emprego com instituição municipal, estadual ou federal sediada ou com unidade permanente no interior do Estado, interessados em realizar curso de pós-graduação stricto sensu, em programa credenciado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em instituições do Amazonas localizadas em município diferente de onde reside o candidato.