Um levantamento mundial estima que até 80% das mães passam por uma forte melancolia, conhecida como blues maternal, após o nascimento do bebê. Dessas, cerca de 10% a 20% apresentam a sua forma mais severa, denominada depressão pós-parto. Com base nesses números, a Maternidade Dr. Moura Tapajóz (MMT), da Prefeitura de Manaus, realizou na quarta e quinta-feira, 23 e 24 de fevereiro, curso sobre as Psicopatologias do Puerpério (período após o parto até que o organismo da mulher volte às condições normais pré-gestação).
O curso, que teve como público-alvo todos os servidores que prestam assistência às puérperas e suas famílias, abordou os temas “Tristeza Materna” (blues puerperal), “Depressão Pós-Parto” e “Psicose Purperal”, e foi facilitado pelos psicólogos da MMT, Raquel Floriano e Márcio Santos.
A psicóloga Raquel Floriano explicou que a própria gravidez já é um processo de transição muito intenso para a mulher, com mudanças biológicas, psicológicas e sociais e que o nascimento do bebê impõe diversas reestruturações e reajustamentos.
“A maternidade, segundo a psicanalista Maria Tereza Maldonado, é uma construção social e o amor materno não é um instinto, é um sentimento, que, como todos os outros, está sujeito a imperfeições, oscilações e modificações. Então, é necessário destacar que nenhuma experiência será igual à outra. É importante não colocarmos todas as mulheres em uma mesma régua e não reforçarmos essa imposição de modelo de maternidade teoricamente perfeita, que é amplamente difundido pela mídia, mas que não funciona para todas as mães”, ressaltou Raquel Floriano. “O real nem sempre se transmuta como o imaginado. A gravidez, o parto e o puerpério também podem ser momentos de dor, dúvidas, culpas e adoecimentos”, destacou a psicóloga.
O psicólogo Márcio Santos descreveu alguns fatores de risco que apontam para a possibilidade de desenvolvimento de psicopatologias no puerpério, dentre eles: história de transtorno psiquiátrico prévio, idade inferior a 16 anos, gravidez não planejada ou não desejada, eventos estressantes experimentados nos 12 meses anteriores ao parto, conflitos conjugais, violência, não ter o apoio do pai da criança, privação de sono e estar desempregada (a mulher ou seu cônjuge).
De acordo com a diretora da MMT, enfermeira obstetra Núbia Cruz, o curso é extremamente importante para que, a qualquer momento, o profissional de saúde seja capaz de detectar, compreender, diferenciar, intervir e encaminhar corretamente mães e famílias que estejam passando por situações como essas.
“Os profissionais da Maternidade Dr. Moura Tapajóz devem estar sempre preparados para agir no caso de identificarem mulheres ou famílias em situação de blues materno, depressão pós-parto ou psicose puerperal. É imprescindível que a equipe multidisciplinar esteja atenta para que a intervenção e o tratamento sejam iniciados o mais brevemente possível”, observou Núbia Cruz. “Essa é uma das razões pelas quais buscamos sempre olhar para a mulher além de suas questões fisiológicas, respeitando-a e assistindo-a de forma integral e humanizada”, concluiu a diretora.
Texto – Marcella Normando / Semsa
Fotos – Divulgação/Semsa