Amistoso contra uma equipe fraca tecnicamente, respeitosa e muito mal montada. O Brasil fez o que quis em Seul. Conseguiu a previsível goleada. Na prática, desperdiça a penúltima data-Fifa antes da Copa
O time de Tite não teve competência para ganhar a Copa América de 2020, perdendo para a Argentina, em pleno Maracanã, não pôde enfrentar a Itália, em Wembley, na disputa da Finalíssima.
Pela incompetência da CBF, a importantíssima penúltima data-Fifa antes da Copa do Catar reservou dois adversários fracos e asiáticos, que nada têm a ver com Sérvia, Suíça ou Camarões, no grupo do Brasil no Mundial. Nem Tite queria esses amistosos.
Coreia do Sul e Japão, por sinal, são os adversários do Paraguai, que não está nem classificado para a Copa, nesta data-Fifa, mostrando a insignificância dos rivais. Não é porque os times asiáticos estão classificados para o Mundial que são representativos. Longe disso.
E, o jogo de hoje, em Seul, foi exatamente como se previa. A distância técnica entre os dois times era gigantesca. Acrescida do medo do treinador português Paulo Bento, que fez os coreanos respeitarem demais a seleção brasileira. Além de darem muito espaço, houve toda a preocupação nas divididas para evitarem faltas violentas.
O que se viu foi o lógico massacre.
5 a 1 foi até pouco. Tamanha a facilidade. Richarlison fez o primeiro. Neymar marcou dois gols de pênalti. E Philippe Coutinho marcou o quarto. Gabriel Jesus marcou o quinto gol, acabando com jejum de três anos na seleção, 19 partidas.
A partida aumenta a estatística vitoriosa.
E mentirosa depois da Copa da da Rússia. O Brasil só enfrentou uma equipe importante no cenário mundial após 2018, a Argentina. E só um europeu, a República Tcheca. Vale lembrar que, nesse período, o time de Tite e de Neymar perdeu a Copa América de 2020, no Maracanã.
Depois da goleada de hoje, há outra partida enganosa marcada. Diante do Japão, na segunda-feira (6).
O destaque de hoje foi a marcação por pressão no início dos dois tempos. Além da liberdade dada a Alex Sandro. Richarlison foi muito bem como o atacante mais avançado. Neymar sem obrigação nenhuma tática sem a bola, teve liberdade para jogar, o que nenhuma seleção costuma dar, também teve atuação interessante.
Os problemas brasileiros estiveram na marcação. Principalmente às costas do veterano Daniel Alves, de 39 anos. E Thiago Silva, 37 anos, marcando individualmente. Weverton foi obrigado a fazer pelo menos duas grandes defesas, o que é inaceitável diante de rival tão fraco.
O time de Tite para o Mundial está desenhado taticamente. Até qualquer sorveteiro coreano que trabalhou hoje no estádio em Seul sabe que ele já se decidiu por um versátil 4-3-3, que os europeus utilizam há pelo menos oito anos.
O goleiro é Alisson. Weverton jogou hoje pelo fato de o titular ter atuado na final da Champions League, no sábado (28). Daniel Alves, Marquinhos Thiago Silva estão confirmados na equipe ideal. Alex Sandro disputa a vaga com Alex Telles. Guilherme Arana corre por fora.
Alex Sandro teve enorme liberdade para atacar. Esquema de Paulo Bento contribuiu. Sofreu dois pênaltis
O Brasil marcará com linha de quatro zagueiros. Com liberdade para Daniel Alves atuar como um meio-campista quando o time atacar. Como fez há três anos, na Copa América. Tite não leva em conta que Daniel, aos 39 anos, está mais desgastado. E os adversários no Mundial não serão sul-americanos frágeis.
Até mesmo os respeitosos coreanos, presos no esquema 4-1-4-1 de Paulo Bento, criaram problemas hoje. Principalmente quando a bola chegou em velocidade para seus atacantes nas costas de Daniel Alves. A cobertura de Marquinhos foi falha. Casemiro fica sobrecarregado diante da pouca disposição que Fred tem para marcar. E no “um contra um”, atacante contra zagueiro, Thiago Silva se mostra lento, sem o grande poder de antecipação que teve a carreira toda. Aos 37 anos fica mais difícil.
No meio, Tite arriscará no Mundial. Deixará apenas Casemiro, com grande poder de marcação. Fred e Lucas Paquetá só preenchem a intermediária. Não têm por característica travar o adversário e sair em velocidade durante todo o jogo. Como, por exemplo, o injustiçado Bruno Guimarães, reserva de Fred. O treinador brasileiro pensa somente nos contragolpes brasileiros. Como o time pôde fazer hoje à vontade em Seul. Fred e Paquetá são ofensivos, sabem o que fazer com a bola nos pés.
Gabriel Jesus aproveitou os fracos coreanos para acabar com seu constrangedor jejum de três anos
Neymar é o grande privilegiado no esquema de Tite. Ele atua como se fosse um meia dos anos 70. Jogador sem a menor responsabilidade de marcação. Nem mesmo de fechar a intermediária. Ele atua do meio para a frente, esperando os companheiros tomarem a bola do adversário. O treinador brasileiro o quer “inteiro”, ou seja, com o melhor preparo físico possível durante os jogos. Pronto apenas para atacar, flutuando preferencialmente do meio para a esquerda, onde rende mais.
Na direita, Raphinha, excelente descoberta, atua com seu pé esquerdo, cortando para o meio. Abrindo espaço para outro protegido do treinador. Sim, ele mesmo, Daniel Alves. Ele tem à disposição todo o “corredor” direito.
No centro do ataque, Richarlison está se firmando. Ele junta muita luta, oportunismo, velocidade e até habilidade para se livrar dos marcadores. É um jogador definidor com personalidade. Incapaz de se sacrificar durante todas as partidas para servir Neymar, como fez Gabriel Jesus no Mundial da Rússia.
Esse é o time de Tite, que foi mostrado, consolidado, hoje contra a Coreia.
O treinador brasileiro queria definir a partida logo no início. Ele sabia quanto a equipe de Paulo Bento é fraca, marca mal e ainda respeita absurdamente o futebol brasileiro. Fora tudo isso, havia um acordo respeitoso para que os dois elencos que disputarão o Mundial evitassem faltas violentas. O que foi enorme vantagem para o Brasil, que é muito mais talentoso.
O Brasil começou marcando a Coreia por pressão, tirando espaço dos zagueiros, com seus volantes e meias adiantados, auxiliando os atacantes na frente. Os coreanos, além de não terem recursos técnicos, ficaram nitidamente assustados.
E não demorou seis minutos para o Brasil marcar seu primeiro gol. Alex Sandro percebeu a frouxidão da marcação, invadiu a área, cruzou para Fred, soltou na área. Ele chutou, e Richarlison desviou a bola para enganar o goleiro Kim Seung-Gyu. 1 a 0.
O pressing de Tite continuou. Raphinha e Fred perderam gols fáceis. A sensação de goleada era nítida, para desespero do público de 67 mil pessoas. Mesmo a Coreia, montada como uma equipe de pebolim, percebeu o grande espaço às costas do veterano Daniel Alves. E começou a complicar o sistema defensivo brasileiro. A cobertura era muito malfeita por Marquinhos. Quando ele aparecia, havia um buraco na defesa brasileira. Contra um time melhor, esse erro pode ser fatal.
Aos 30 minutos, com a defesa brasileira desarrumada, o atacante do Bordeaux, Hwang Ui-Jo, dominou a bola diante de Thiago Silva. Como um pivô de futebol de salão, ele girou em cima do outro veterano do time de Tite. E bateu cruzado, indefensável para Weverton, 1 a 1.
O gol teve reflexo psicológico no Brasil. Durante cinco minutos, houve uma perigosa pane. O time coreano ganhou confiança. Mas logo tudo voltou ao normal aos 38 minutos, quando Alex Sandro, sempre ele, cruzou para ótima cabeçada de Richarlison. O goleiro coreano fez excelente defesa. Acontece que, no rebote, Alex Sandro foi mais esperto, mais veloz do que Lee Yong. O coreano foi chutar a bola para longe, mas acertou o brasileiro. Pênalti que o VAR acertou em marcar.
Neymar fez a cobrança com malícia, talento. 2 a 1, Brasil.
Mais tranquila, a seleção ainda teve o terceiro gol à disposição. Aos 46 minutos, após cobrança de escanteio, Thiago Silva cabeceou no travessão. No rebote, Casemiro, na pequena área, chutou por cima.
Foram 13 arremates brasileiros no primeiro tempo contra quatro coreanos.
A segunda etapa recomeçou com a mesma estratégia brasileira. Marcando por pressão os fracos coreanos. E, para não variar, Alex Sandro foi o destaque. Sofreu outro pênalti infantil, desnecessário. Dessa vez de Kim Young-Gwon que, ao tentar desarmá-lo, o derrubou.
Neymar outra vez marcou. Chegando a 73 gols, ficando a cinco de Pelé, no topo da artilharia da seleção brasileira.
A partir dos 3 a 1, os coreanos sentiram o peso da derrota. E deram ainda mais espaço para a seleção de Tite. Aos 29 minutos, Neymar rolou para Lucas Paquetá, livre, acertar a trave.
Aos 34 minutos, Philippe Coutinho se aproveitou de dividida entre Hwang In-Beom e Lucas Paquetá. O chute saiu perfeito, no ângulo. Perfeito 4 a 1.
Mesmo com os coreanos humilhandos, Weverton foi obrigado a duas defesas importantes, evitando que o placar fosse apertado. O sistema defensivo brasileiro não é ajustado. Daniel Alves e Thiago Silva comprometem e precisam que companheiros cubram seus erros.
Mas, para completar a estatística enganosa, Gabriel Jesus invadiu a área driblando. Bateu de pé esquerdo, marcando um belo gol. Acabando com seu jejum. 5 a 1, aos 47 minutos.
Goleada impressionante para quem não analisa as circunstâncias.
A fragilidade do adversário, a inutilidade de enfrentar um time asiático quando o Brasil terá pela frente europeus e africano no seu grupo na Copa do Catar.
Mas esse é o trabalho da CBF.
Segunda-feira, há outra farra marcada.
Contra o Japão.
Assim o Brasil se prepara para o Mundial, que não conquista há 20 anos.
Se enganando, se iludindo, com uma preparação amadora.
Fonte: R7
Foto: Divulgação