Pedro Maron Barretto, de 11 anos, nasceu com doença rara que impede visão; desde 2018, adapta livro para braille
Ir à banca de jornais, comprar o álbum da Copa do Mundo e alguns pacotinhos de figurinhas é, para muitos, um aquecimento para o torneio que neste ano começa em 20 de novembro, no Catar. Para Pedro Maron Barretto, de 11 anos, deficiente visual, o ritual envolve mais um passo: desmontar o álbum e reconstruí-lo de forma especial, com a adaptação para braille.
Em entrevista ao R7, o pai de Pedro, Marcos Barretto, explicou que o menino, apaixonado por futebol, já nasceu sem enxergar. A ACL (amaurose congênita de Leber), uma doença rara e sem tratamento no grau apresentado, manifestou-se logo nos primeiros dias de vida do morador do Distrito Federal.
Com o passar dos anos, à sua maneira, Peu, como também é conhecido, foi incluindo cada vez mais o futebol na sua rotina. Em um perfil nas redes sociais, gerenciado pelos familiares, o jovem compartilha algumas das suas atividades favoritas. Colecionar figurinhas, claro, não poderia ficar de fora.
Em um desses quadros, o Sextou de Notícias, a ida à banca para comprar o então recém-lançado álbum da Copa viralizou. Ainda mais quando disse que precisaria fazer uma adaptação para poder colecioná-lo, já que não existe um modelo inclusivo para deficientes visuais, uma reclamação antiga de Peu.
Em sua casa, Peu publicou outro vídeo, mostrando o processo de montagem do álbum adaptado com leitura em braille. Ainda em 2018, para o Mundial da Rússia, o menino quis, pela primeira vez, completar o livro de figurinhas.
“O Pedro já estava com 7 anos na época e chegou para a mãe [Tatiana Maron] e disse: ‘Meus amigos estão trocando figurinhas e eu também quero’. A mãe dele falou que daríamos um jeito e foi pensando a forma de como iria fazer”, contou Marcos.
O pai do menino disse ainda que é preciso ter um cuidado com as páginas do álbum para que não rasguem com tantos adesivos da linguagem em braille. O processo da colagem, feito pelo garoto, torna também o livro mais frágil.
“A gente comprou o álbum normal, depois a mãe dele mandou encadernar. A gramatura do papel braille é um pouco mais grossa, então não tem como fazer o braille no próprio papel. A gente comprou um adesivo, aquele autocolante, e o Pedro escreve em cima do adesivo. Aí, a Tatiana foi colando nas páginas dos países os nomes e números”, disse.
Para colar os cromos, Pedro pede o auxílio dos pais e, além deles, o menino conta com a ajuda de seus amigos para colar e também trocar figurinhas repetidas.
“Ele troca figurinhas sem o menor problema. Ele é ótimo, uma criança super sociável, inteligentíssima, possui uma memória privilegiada. Tem vários amigos na escola, tem um grupo de colegas que é desde a creche”, disse o pai, orgulhoso.
Os familiares e Peu iniciaram uma campanha na internet para que a Panini, fabricante dos álbuns de figurinhas da Copa, produzisse um álbum “mais inclusivo”, como o próprio garoto diz em muitas das suas postagens.
“Tomara que a Panini se posicione e faça um álbum em braille. Estou torcendo para que isso chegue, para que outras crianças cegas colecionem sem problemas”, disse Peu.
A ideia repercurtiu nas redes sociais e mesmo celebridades apoiaram a iniciativa. O pai disse à reportagem que a Panini nunca entrou em contato com a família. Ao R7, a empresa italiana também não se manifestou.
*Estagiária do R7, sob supervisão de André Avelar
Fonte: R7
Foto: Divulgação