Capa digital da Máxima, a apresentadora Luciana Gimenez falou sobre o preconceito relacionado à idade e disparou: “Estamos no jogo
Luciana Gimenez é uma verdadeira estrela! A apresentadora é uma inspiração para centenas de mulheres espalhadas mundo à fora. Porém, assim como todas elas, não está livre dos julgamentos na sociedade. O tempo passou e sentiu na pele a pressão social pela juventude eterna. A busca por este padrão perfeito imposto historicamente impede que as pessoas, principalmente mulheres, envelheçam. “Eu acredito que o etarismo é mais um tipo de preconceito que, por muito tempo, não era falado. Sempre admiti para todos que eu odeio ficar velha – e isso desde os meus 30 anos”, disse ela em entrevista exclusiva para a Máxima. “Então, já tem um certo (auto)preconceito, mas não sabemos o quanto isso foi motivado pela rejeição alheia”, comentou.
A apresentadora contou ainda que esse tipo de julgamento acontece desde muito cedo em sua vida. “Há mais de 20 anos, as pessoas já me perguntavam: ‘E aí, agora que você está envelhecendo, como se sente?’. Comecei a ser questionada já aos 30 – desde esta época eu já sofria. É algo imputado na cabeça que, não necessariamente, não tem a ver com idade. Penso que é mesmo a percepção alheia e essa agressão desnecessária, que vão levando você a este patamar de não gostar da situação. Quando fiz 31, quase morri. Foi um peso para mim. É como se, nós todos, não fôssemos envelhecer. O outro, que está apontado o dedo, também vai ficar velho”, avisou.
Luciana explicou que essa questão inevitável é dolorosa e que mexe diretamente com a autoestima: “Envelhecer é uma coisa que não tem como lutar contra, não é algo que se pode escolher. Eu acho muito legal quando as pessoas falam que adoram quando ficam maduras. Eu não levanto essa bandeira, porque realmente ainda tenho uma dificuldade com isso. Muito pior do que você não conseguir trabalhos ou ser rejeitado em outros, é você se rejeitar. Aquilo vai criando uma imagem e uma sensação de incapacidade. Você pensa que, realmente, não tem mais idade para as coisas”.
“A gente fala sobre autoimagem e sobre essa mutilação da pessoa como imagem, mas tem também a realidade que é a de você não conseguir algumas coisas por julgarem que está velha. Começa a se questionar: ‘Quando devemos morrer? Já que não posso mais usar biquíni, shorts, calcinha, não posso fazer nada. Algumas pessoas usam o argumento de que ‘você não pode porque é mãe’. A pessoa é mãe, só que não está invalidada.”, comentou.
O etarismo não era um assunto essencial quando pensamos na desconstrução ligada ao bem-estar e à aceitação. Mas esta realidade velada hoje se encaminha para discussões mais saudáveis sobre a faixa etária e as permissões que devemos nos conceder (em detrimento de proibições construídas e falsas). “Têm muitos preconceitos que a sociedade enxerga como muitos graves – e são mesmo. E o etarismo, hoje em dia, começa a ser combatido [e discutido]. Não há outra alternativa. Não é uma condição mutável.”, acrescentou.
A apresentadora comentou ainda que esta busca impossível deixou marcas. “O pior é que, eu, às vezes, acho que colaboro nisso comigo. Porque se eu pudesse mudar, parava nos 30 anos. Isso foi moldado em mim e penso que tem vezes que concordo. Você ouve tanto sobre isso que enraíza em você. No entanto não pode ser assim”, disse ela que topou o convite da Máxima para uma fotografia de capa sem retoques de imagem.
“O preconceito existe em todos os lugares, mas não podemos deixar que ele fique naturalizado. A gente é um ser pensante. Temos que entender que magoa o outro. E racionalizar: todos vão envelhecer. Temos que ter o controle de como nos tratamos e como tratamos os outros. Eu, por exemplo, mais fácil respeitar os outros do que me respeitar. Mas isso é algo que devemos nos policiar – a gente se agride, se autossabota, não se valoriza, se magoa. São maneiras de se machucar”, confessou.
EXPERIÊNCIAS PRÓPRIAS
“Eu já senti na pele”, começou Luciana ao narrar uma sequência de vezes em que foi vítima de etarismo.
“Já ouvi editoras dizendo que não tinha idade para fazer uma capa de revista. E depois, apareceu uma menina que era mais nova que eu na capa”, contou.
Ela ainda comentou que os homens estão mais “livres” desse tipo de julgamento: “Acho interessante que, muitas vezes, quando aparece meu nome, aparece a idade do lado. Isso não acontece com um homem. O homem mais velho é levado como mais bonito, mais ‘gostosão’, amadurecendo. A mulher não”.
“Tive uma pessoa na minha vida que falava: ‘Homem envelhece e mulher apodrece’. Ouvia isso quando eu ainda era adolescente e isso ficou na minha cabeça”, relembrou.
A apresentadora disse que esse tipo de ação é muito cruel: “Eu já tive momentos na minha vida em que pensava que estava apodrecendo e que queria morrer. Nunca achei que estivesse morrendo, mas já tive momentos que fiquei esperando por isso. É cruel”.
AUTOESTIMA
“Eu estou fazendo um exercício de, quando a pessoa me elogiar, eu ser grata e não falar nada de ruim sobre mim. Outro dia, saí e as pessoas me elogiaram muito. Tentei interiorizar isso. É difícil. Tenho recebido mais elogios de mulheres quando fiquei mais velha do que quando era mais nova”, desabafou.
Luciana confessou que ainda precisa trabalhar mais a autoestima: “Não se se o público tinha uma maior competitividade, mas, agora, mais velha, as pessoas são muito mais receptivas e carinhosas comigo. Por outro lado, penso: ‘Será que é por pena? Olha como a cabeça fica uma loucura!’”.
“Eu falo sobre isso, mas com dor no coração. Sou um exemplo disso que elas vivem. Eu também me sinto sensível com o assunto. A idade não é um fator determinante. Eu, hoje, meu lado racional, me sinto tão apta a fazer coisas que não fazia antes. Quando eu tinha de 22 a 29 anos, não saia de casa, tinha muita preguiça. Ficava na frente da televisão e não tinha vontade de fazer nada. Hoje em dia, tenho muito mais vontade de fazer as coisas, energia e querer viver. Temos que pensar que estamos no jogo!”, aconselhou.
A apresentadora comentou sobre o amadurecimento das emoções: “Tem um fator de amadurecimento, sim. Você olha para seus sentimentos, suas emoções e tenta equilibrá-las de maneiras que consiga lidar com as coisas. Sou uma pessoa em que as emoções são muito fortes, então, meu trabalho comigo é evitar o desnível dessas emoções. As mulheres têm essa avalanche de emoções e, hoje, me sinto mais apta a falar com todas elas.”.
“Depois da pandemia me propus a falar, ainda com dificuldade sobre isso que sentia e que poderia alcançar outras mulheres. E elas sem identificam muito! Ainda tenho pessoas que me elogiam, mas imagina aquelas que não têm? A mulher, a partir dos 35 anos, começa a sofrer com isso”, disse.
ETARISMO E VIDA AMOROSA
“Você não namora a pessoa por causa da idade, você namora porque você gosta daquela pessoa e da idade mental dela, da personalidade”, começou Luciana ao falar sobre o etarismo nas relações amorosas.
A apresentadora contou que, quando namorava rapazes mais velhos, via os comentários negativos frente a frente. “Quando tive namorados mais velhos, sofria muito preconceito. As pessoas falavam: ‘Está namorando esse velho’. Agora, que eu estou namorando um cara mais novo, ninguém fala. Isso nunca ouvi ninguém falar”, comentou.
“Tem mais a ver o estilo de vida do que a idade. Eu tenho essa pegada! Eu fico pensando: ‘Será que as pessoas que julgam o outro também se julgam?’ Acho que sim, porque, quando você julga o outro, você também está se colocando em uma posição de fragilidade ao se colocar no mesmo patamar. Quando você coloca o outro em uma posição ruim, isso fala mais sobre você do que sobre a outra pessoa”, disse.
CONTATO COM MULHERES
CRÉDITOS:
Fotos: Pedro Dimitrow (@pedrodimitrow)
Texto: Gabriele Salyna (@gabisalyna)
Design de Capa: Felipe Fiuza (@felipepontofiuza)
Make e cabelo: Leonardo Nascimento (@leonardo_makeup)
Stylist: Satomi Maeda (@satomimaeda)
Assistente Stylist: Priscila Gomes (@prigomees)
Assistente fotografia: Denisson Felix (@denisson_felix)
Backstage: Renato Dantas (@renatodantas)
Business Estúdio Pedro Dimitrow: Viviane Arnaldi (@viviarnaldi)
Coordenação Estúdio Pedro Dimitrow: Adriana Rocha (@adri_roch)
Captação de vídeo: Rafaella Brandi (@rafaellabrandi)
Fonte: Revista Máxima
Foto: Divulgação