A arquiteta Hana Eto Gall, de 30 anos, registrou o momento em que um jacaré nadava sobre o Rio Negro, nas proximidades da praia da Ponta Negra, na zona oeste de Manaus, na manhã desta terça-feira (18). A mulher praticava remo com uma amiga por volta de 6h quando foi surpreendida com o animal, que estava próximo dela, e decidiu filmá-lo.
“Eu e minha amiga praticamos remo na Ponta Negra. A gente faz aula às seis da manhã. A gente rema de costa, mas eu sempre olho pra trás para ver se tem algum nadador ou outro barco. Quando eu olhei para trás, vi um tronco, mas achei muito estranho. O tronco parecia um jacaré. Então, fiquei observando. Não queria acreditar que era um jacaré”, disse Hana.
A arquiteta, que inicialmente pensava ser um tronco, confirmou que se tratava de um jacaré ao se aproximar dele e alertou a amiga. “Quando chegou mais perto que eu fui ver mesmo que era um jacaré. Dava para ver o rabo, tem tipo uma serrazinha no rabo. Foi quando interrompi o vídeo. Eu chamei a minha amiga, que estava mais atrás”, afirmou Hana.
Vazante dos rios
De acordo com o biólogo Ronis Da Silveira, que é professor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), pelas imagens, é possível identificar que se trata de um jacaré-açu macho, com aproximadamente 3,80 metros de comprimento. “Provavelmente é um macho porque as fêmeas não ocorrem nesses ambientes abertos”, afirmou o professor.
Ronis explica que animais dessa espécie existem ao longo do Rio Negro e os nos seus afluentes, mas em baixa densidade se comparado com outras áreas. “Existem relativamente poucos indivíduos quando comparado com outras áreas, como nas várzeas. Nós temos a ocorrência de animais por volta de três metros, inclusive nos igarapés de Manaus.
Ainda conforme o professor, no período da vazante, as áreas periféricas ao longo dos afluentes do Rio Negro secam e os animais buscam ambientes abertos com água. “O indivíduo busca sempre um ambiente aberto com água. Então, ele acaba vindo para a nossa região, inclusive, na Ponta Negra”, afirmou o biólogo.
Para o professor, pelas características do animal registradas nas imagens, o animal está magro. “Trata-se de um indivíduo magro. Dá para perceber nessa dobra que ele tem no dorso das costas. Isso indica que ele não está bem alimentado. Mas no geral eles comem muito pouco, são organismos muito econômicos”, afirmou o biólogo.
Ronis explica que o jacaré-açu geralmente foge diante da presença humana e, durante a fuga, pode “atropelar um caiaque ou uma canoa pequena”. “Isso pode virar a canoa. Às vezes, dá a ideia de que o animal veio para cima e atacou, mas é a fuga, e ele acaba esbarrando. O problema é que quando ele esbarra em algo ele tende a morder automaticamente. Uma forma de reação”, disse.
“Isso pode, sim, causar um dano. Mas o pessoal remando, se permanecer longe dele, de não ficar querendo atrair a atenção dele… Via de regra, são animais curiosos. Ele pode se aproximar para ver o que é, caso ele não identifique. Pelas imagens, trata-se de um animal muito antigo. Então, é um indivíduo experiente. Ele não gasta energia à toa”, completou o biólogo.
Ronis alerta que nadadores estão mais suscetíveis a ataques por estarem na lâmina da água. “O animal mantém a cabeça, o olho na altura da lâmina da água. Então, tudo o que está dali para baixo ou um pouco acima é uma presa em potencial. O que não acontece quando ele vê uma canoa. É uma questão de ângulo. No entanto, é um animal selvagem. Acidentes acontecem”, disse Ronis.