O estado ocupa a segunda posição na região Norte em número de notificações da doença, ficando atrás do Pará
A cada 100 mil amazonenses, 32.3 convivem com a Síndrome da Imunodeficiência Humana (Aids), segundo Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (MS) divulgado no último dia 30 e referente ao ano de 2022. Esse dado coloca o estado em segundo lugar no ranking nacional de detecção de Aids. No comparativo com 2021, o estado apresentou uma queda percentual de 17,9% casos (39.3/100 mil). Em primeiro lugar está Roraima (RR) com 34.5 casos.
Ainda conforme o documento do MS, em um recorte de dez anos o Amazonas teve um incremento de 8% nas taxas de detecção, saltando de 28.9 casos em 2012 para 32.3 casos em 2022 e coloca o estado na oitava posição nacional. Em números absolutos, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), representa um salto de 1.101 mil casos em 2012 para 1.398 mil no ano passado.
Em 2023 já são 586 casos de Aids notificados até novembro deste ano. Em 10 anos, o AM teve um incremento de 7.8% no número de mortes. Em 2012, 6.4 amazonenses morreram em decorrência da síndrome e em 2022 foram 6.9 óbitos. Nos dois anos os óbitos foram acima do coeficiente nacional de 4.1 óbitos por 100 mil habitantes. Nacionalmente, foram 10.994 mil mortes em 2022 pela doença e desse valor 68,2% são homens e 31,7% mulheres.
HIV
Os dados acerca do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) apontam que nacionalmente são 43.403 mil pessoas com o vírus em 2022, desse total 63,6% de 20 a 39 anos. 73,6% são do gênero masculino e 26,3% feminino. 62,8% são pessoas pretas e pardas e 54,3% são homens que fazem sexo com outros homens, o que em números absolutos representa aproximadamente 23.567 mil infectados pelo HIV.
Com 836 notificações até novembro deste ano, o AM ocupa a segunda posição na região Norte para casos de HIV. Em 2021 foram 1.664 mil casos e em 2022 possui um total de 2.058 mil casos, conforme dados do Sinan. Isto representa um aumento de 23.6% entre esses anos. Em primeiro lugar está o estado do Pará (PA) com 1.311 mil casos de HIV notificados.
No Brasil são 7.943 mil gestantes positivadas para HIV. Desse número 51,7% são mulheres na faixa etária de 20 a 29 anos e 59,7% foram diagnosticadas antes do pré-natal. No AM neste ano são 197 grávidas com HIV. Em 2022 foram 313 gestantes positivadas, o que representa 4.3 mulheres para cada 1.000 mil nascidos vivos. Já em 2021, consta o registro de 299 casos de HIV em grávidas com uma taxa de 3.8/1.000 nascidos vivos. No comparativo entre anos, representa um aumento de 4.6%.
Esses números também refletem nos casos de crianças expostas ao HIV que somente em 2023 no AM já consta 129 notificações e coloca o estado na terceira colocação para esse parâmetro, seguido dos estados do Pará (370 notificações) e Amapá (145 notificações). Nos dois anos anteriores, também consta uma diminuição de 10% nesse público, sendo 239 notificações em 2021 e 215 no ano passado.
Prevenção negligenciada
Para o coordenador de Educação Comunitária da Fundação de Medicina Tropical – Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-DHVD), Gabriel Mota, os números divulgados pelo MS em relação à Aids no AM indicam que os indivíduos continuam a manter relação sexual sem o uso de preservativo, que ainda é a principal barreira física que coíbe a transmissão do vírus que é passado por meio do contato com o sêmen. “Mas não apenas o preservativo, isso também mostra que mesmo com tecnologia como PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) e PEP (Profilaxia Pós Exposição) à disposição do SUS (Sistema Único de Saúde), apenas o preservativo ainda está no imaginário de prevenção das pessoas. E hoje em dia é possível prevenir contra o HIV antes e depois de uma relação desprotegida”, disse Mota.
Segundo Gabriel, se a pessoa positivada para HIV começar o tratamento em seis meses fica indetectável. “Esse vírus não é transmitido por via sexual, conclusão médica de estudos como Partner, Opposite Attract e HPTN052. O tratamento também impede que a pessoa desenvolva o quadro de Aids. O que acontece é que historicamente a Aids atingiu bem no peito da comunidade LGBTI+, especificamente homens gays e pessoas trans e travestis”, pontuou.
Único comprimido
O enfermeiro infectologista, Eduardo Felix, explica que um único comprimido de PrEP reduz em quase 90% a probabilidade de infecção por HIV mesmo em uma relação sexual desprotegida. Segundo o especialista eficiência do medicamento é comprovadamente alta, o que vem destacando nos últimos estudos como uma das principais estratégias de prevenção ao HIV da atualidade assim como importante política pública de saúde.
“Enquanto estratégia de prevenção na política brasileira de controle do HIV a PrEP é direcionada a grupos alvo, que possuem maior vulnerabilidade de exposição ao HIV, portanto homens gays, homens que fazem sexo com homens, mulheres ou homens que vivam relações sorodiferentes, quando o parceiro ou parceira vive com HIV sem carga viral indetectável, pessoas trans e profissionais do sexo”, disse Felix.
Já a PEP é similar a PrEP. De acordo com o especialista, o medicamento também serve para impedir o desenvolvimento da infecção causada pelo HIV, porém a indicação de uso é exatamente inversa a da PrEP: enquanto a PrEP é indicada para uso preventivo antes de relações sexuais a PEP deve ser iniciada após uma relação sexual desprotegida ou com risco potencial para HIV.
Primeiros sinais
HIV e Aids não significam a mesma condição clínica. Conforme Felix, são duas condições clínicas distintas. “A infecção pelo HIV apresenta como sintomas os mesmos de uma infecção viral aguda semelhante a um resfriado, dor de garganta, dor de cabeça, febre, dores no corpo e eventualmente diarreia, tendem a surgir e dissipar-se entre três e nove semanas após a entrada do vírus no organismo”, disse o especialista.
Já a Aids é caracterizada essencialmente por sintomas associados a deficiência do sistema imunológico. “A Aids correlaciona-se com a imunidade, surgem nessa fase, que pode levar entre meses ou anos às infecções oportunistas, como tuberculose, toxoplasmose, sarcoma e outras. Essas sim, são a principal causa de óbito associado a Aids”, detalhou Eduardo.
Em gestantes
Outro dado alarmante apresentado pelo MS são os casos de gestantes positivadas para o HIV que já chega a mais de 100 até novembro deste ano no estado. A enfermeira Rita de Cássia, técnica do Núcleo Controle de HIV/Aids, Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e Hepatites Virais da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), declarou que em média 70% das gestantes descobrem no pré-natal que estão com o vírus.
“As demais já viviam com HIV. E é possível viver e engravidar. Muitas delas já tinham e não sabiam porque não se testavam. Realmente, a grande maioria é a questão da relação sexual desprotegida”, observou a técnica.
Na hora do parto, segundo a técnica, a gestante leva a medicação e dependendo do nível de carga viral o bebê pode nascer de parto normal. “Já o bebê vai tomar a medicação ao nascer e fazer o exame de carga viral. Esse não é um bebê com HIV, mas sim exposto ao HIV e não vai mamar. Ou seja, a mulher com HIV não amamenta porque o vírus pode ser transmitido pelo leite materno”, disse a enfermeira.