Alerta retirou cerca de 150 pessoas do Centro do município e antecipou enchente de estrada. Casas, escola e livros foram destruídos ou encharcados nas tempestades que atingem o RS
Centenas de livros didáticos atingidos pelas enchentes no Rio Grande do Sul formam uma pilha de lixo na porta do Colégio Estadual de Colinas, município a 125 quilômetros da capital Porto Alegre. No meio do material encharcado surgem títulos que tratam sobre a proteção e de leis que protegem o meio ambiente.
O colégio fica no centro da cidade e à beira do Rio Taquari, um dos que mais subiram com as tempestades no estado — em Lajeado, município vizinho, o rio atingiu 24 metros e ultrapassou a cota de inundação. Além dos materiais didáticos, as águas afetaram mantimentos e itens de higiene usados pelos alunos de Colinas
Volumes sobre questão ambiental são vistos em meio a material didático de biblioteca escolar inundada em Colinas (RS) —
No domingo (12), um novo alerta de emergência fez com que aproximadamente 150 famílias deixassem as suas casas na região central do município. As águas ameaçam voltar a invadir as salas de aula e as casas que resistiram ao desastre. Parte delas desabou e estão condenadas.
No meio do Dia das Mães, a professora Patrícia Knobloch, de 34 anos, teve que pegar a sua mãe, Janete, e os demais familiares para deixar às pressas a casa que fica na rua em frente ao colégio. Elas estão entre as 2 milhões de pessoas afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul (leia mais abaixo).
região central de Colinas e seus aproximados 150 moradores foram evacuados de última hora pela nova cheia do Rio Taquari, que brota na Serra Gaúcha até chegar ao Rio Jacuí e, depois, ao Guaíba — já na capital Porto Alegre. A cerca de 50 metros da casa de Patrícia, o que antes era mato virou um grande lago.
Sua mãe, Janete, perdeu a casa na enchente do dia 1º de maio. Os destroços ficam separados por uma rua de onde a filha mora. Elas terão que ir, junto do pai da família, Mário, para uma terceira casa. Não sabem se encontrarão o lar atual com ou sem água.
“Eu nunca posso deixar ninguém da família na mão. Do mesmo jeito que eu sei que eles iam me ajudar, e sempre me ajudaram, não vai ser agora nesse momento difícil que eu vou deixá-los na mão. O pouco que a gente tem a gente divide”, conta ao g1 Patrícia, sob uma nova chuva que atingiu a região por volta de 17h de domingo.
As chuvas deixam marcas profundas no Rio Grande do Sul: o número de mortos subiu para 143, há 125 desaparecidos e 806 feridos. Mais de 2 milhões de habitantes em 447 municípios foram afetados, com um total de 76 mil pessoas e 10,5 mil animais resgatados desde o início da tragédia.
família havia retornado à casa nesta semana para ter um lugarzinho, como conta Patrícia, mas com medo de ter que sair novamente. O que se confirmou em pleno Dia das Mães.
“É incômodo ir na casa dos outros. Por mais que eles queiram ajudar, a gente acaba se sentindo um pouco intruso. Por isso voltamos com algumas coisas básicas”, conta.
Estrada submersa
Em frente ao colégio estadual, o vendedor Darlan Messer, que também é vereador do município, ajudava um morador que perdeu sua casa na última enchente a guinchar um carro no fim da tarde de domingo. O veículo, modelo Fusca, já estava funcionando momentos depois. “Nunca vimos uma situação dessas, agora é correr da chuva”, disse.
Patrícia, Janere e Mário se juntam ao esposo e ao filho da professora para se abrigarem na casa de uma amiga, também em Colinas, mas em uma região mais alta e mais distante do Taquari. E viram que o alerta não era à toa.
Com os fortes e intensos temporais dos últimos dias no Rio Grande do Sul, o rio voltou a encher e invadiu a estrada RS-129, que liga Colinas a Lajeado. Ninguém passava pela enchente.
Quem tentou se arriscar precisou retornar 180 graus na estrada e ir sentido ao município de Imigrante, passar por Teutônia, acessar a RS-453 em direção a Estrela. Ali, passar por uma ponte sobre o Taquari que ficou submersa no começo do mês para, só então, chegar a Lajeado.
A viagem que costuma durar 20 minutos de carro em 17,6 km na estrada passou a ser feita quase três vezes mais demorado (49 minutos) em trajeto que saltou para 48 km.
A professora prefere agradecer a se lamentar. “A gente teve muita sorte que todo mundo se ajudou muito. Tem quem conhece muito o rio e se aventurou no rio e pegou o pessoal. Meu marido foi retirado de barco na enchente de setembro”, conta, citando a 2º grande enchente na região — antes, ocorreu uma em setembro e, agora, acontece a terceira.