Brasil e Venezuela aprofundam crise diplomática com acusações mútuas
BRASIL – A relação diplomática entre Brasil e Venezuela registrou nova escalada de tensões após o governo de Nicolás Maduro afirmar que o Brasil conduz uma “agressão descarada e grosseira” contra a presidência venezuelana e uma “campanha sistemática e violadora dos princípios” das Nações Unidas. As declarações, publicadas nas redes sociais pelo chanceler Yván Gil Pinto, acusam o Ministério das Relações Exteriores do Brasil de interferir na soberania venezuelana e violar a Constituição brasileira ao comentar assuntos internos da Venezuela.
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro, em resposta, classificou o tom das declarações venezuelanas como “ofensivo” e afirmou que ataques pessoais e retóricas agressivas não correspondem à forma respeitosa com que o governo brasileiro se posiciona frente à Venezuela e ao seu povo. A nota brasileira foi emitida após uma publicação da polícia venezuelana que continha uma imagem da bandeira do Brasil acompanhada da frase “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”, com uma silhueta que lembra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora com o rosto escurecido.
As trocas de acusações recentes refletem uma sequência de eventos que vêm influenciando o relacionamento entre os dois governos desde o início do ano. Em maio de 2023, Maduro foi recebido no Brasil com honras de chefe de Estado, e ambos os países expressaram interesse em cooperação. Porém, nos meses seguintes, declarações e ações diplomáticas indicaram um distanciamento.
Cronologia de Acontecimentos
Desde março de 2024, a interação diplomática entre Brasil e Venezuela tem sido marcada por altos e baixos. Em encontros bilaterais no início do ano, ambos os governos discutiram o processo eleitoral venezuelano, e o Brasil assumiu um papel de observação e mediação, com o envio do assessor especial Celso Amorim para reuniões sobre o tema. Em março, após a inabilitação de candidatos da oposição, o Brasil expressou “preocupação” sobre o contexto eleitoral na Venezuela.
Com a realização das eleições presidenciais venezuelanas em julho de 2024 e a posterior confirmação da vitória de Maduro pela Suprema Corte da Venezuela, o Brasil demonstrou insatisfação pela ausência de auditoria pública dos resultados e questionou a falta de transparência na divulgação das atas eleitorais. Em agosto, na reunião do Brics, o Brasil apoiou o veto à entrada da Venezuela no bloco, o que foi recebido com críticas pelo governo venezuelano, que classificou o veto como uma “agressão inexplicável”.
Reações e Convocação de Embaixador
Após o veto no Brics, o governo venezuelano comparou as políticas do atual governo brasileiro às do governo anterior e convocou seu embaixador no Brasil para retornar ao país. Em nota, a Venezuela afirmou que o assessor Celso Amorim agiria como “mensageiro do imperialismo norte-americano” e requisitou uma explicação pública do presidente Lula sobre o veto no Brics. Em resposta, o governo brasileiro afirmou que houve uma “quebra de confiança” na relação diplomática entre os dois países.