O Ártico, uma das regiões mais sensíveis às mudanças climáticas, deixou de atuar como um sumidouro de carbono e passou a emitir mais dióxido de carbono (CO2) do que consegue armazenar, segundo o Relatório Ártico 2024, divulgado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) nesta terça-feira (10/12). O fenômeno é resultado de um conjunto de fatores alarmantes, como incêndios florestais frequentes e o descongelamento do permafrost.
Historicamente, a tundra, bioma característico do Ártico, desempenhava um papel crucial na captura de carbono, ajudando a mitigar os efeitos do aquecimento global. Contudo, de acordo com o relatório, o aumento das temperaturas na região, que em 2024 alcançou a segunda marca mais alta desde 1900, tem acelerado o degelo e intensificado queimadas devastadoras. Desde 2003, as emissões anuais geradas por incêndios no Ártico atingiram uma média de 207 milhões de toneladas de carbono, pressionando ainda mais a capacidade de retenção do bioma.
O permafrost, camada de solo permanentemente congelada que armazena grandes quantidades de carbono, está se descongelando rapidamente devido ao aumento das temperaturas. Esse processo libera não apenas CO2, mas também metano, um gás de efeito estufa ainda mais potente. Além disso, os incêndios florestais, cada vez mais frequentes e severos, destroem a vegetação e a matéria orgânica, liberando carbono e agravando o degelo do solo. Esses eventos criam um ciclo vicioso que torna o Ártico uma fonte líquida de carbono para a atmosfera.
A cientista climática Brenda Ekwurzel, da União de Cientistas Preocupados, alertou para a gravidade da situação, destacando que muitos dos impactos já observados podem ser irreversíveis. “A catástrofe climática que estamos vendo no Ártico já está trazendo consequências para as comunidades ao redor do mundo”, afirmou. Ela destacou que a liberação líquida de carbono em grande escala é um presságio preocupante para o futuro do planeta.
O relatório ainda apontou que setembro de 2024 registrou a sexta menor extensão de gelo no oceano Ártico nos últimos 45 anos, reforçando as evidências de que as mudanças climáticas estão transformando profundamente a região. Os impactos globais dessas alterações, que incluem o aumento do nível do mar e eventos climáticos extremos, tornam o Ártico um termômetro crucial da crise climática em curso.
fonte: DW Brasil