Após atingir a pior seca em 121 anos, o Rio Negro voltou a subir em Manaus. Foram 131 dias seguidos de descida, até o primeiro registro da elevação das águas, no sábado (30). O rio continuou subindo no domingo (29) e nesta segunda-feira (30). Em três dias, a cota se elevou em 17 centímetros.
No sábado e no domingo, o Rio Negro subiu 5 centímetros por dia. Nesta segunda-feira, subiu mais 7 centímetros.
Ainda sexta-feira (28), a cota tinha estabilizado na capital pela primeira vez, após 131 dias seguidos de descida das águas. Entre quinta (26) e sexta-feira (27), o nível do rio permaneceu em 12,70 metros.
Rio Negro durante a seca de 2023 em Manaus. Foto mostra o Porto de Manaus no dia 23 de outubro, quando o rio ficou abaixo dos 13 metros pela primeira vez em 121 anos — Foto: William Duarte/Rede Amazônica
Nesta segunda-feira, com a retomada da subida das águas, a cota está 12,87 metros.
Os dados são do Porto de Manaus, responsável pela medição diária do Rio Negro, no Centro de Manaus.
De acordo com o Porto de Manaus, neste ano, as águas começaram a baixar na capital no dia 17 de junho. Foram 131 dias seguidos de descida.
Praia da Ponta Negra de Manaus em 28 de outubro de 2023, data em que o Rio Negro voltou a subir após registrar seca recorde — Foto: Jussara Cury/CPRM
Nesse intervalo, o Rio Negro registrou a pior seca em 121 anos de medição, no dia 16 deste mês de outubro, ao atingir 13,59 metros em Manaus. Até então, a maior vazante tinha sido registrada em 2010, quando o rio baixou para 13,63 metros.
Ritmo de descida desacelerou
Depois do pico, as águas continuaram descendo e só reduziram o ritmo de descida na semana passada.
Até terça-feira (24), o Rio Negro, descia, em média, 10 centímetros. Na quarta-feira (25), o ritmo reduziu para 6 centímetros; na quinta (26), para 3 centímetros até estabilizar na sexta (27).
De quinta para esta sexta-feira, o Rio Negro não subiu nem desceu, ou seja, permaneceu com a cota em 12,70 metros nos dois dias.
Mesmo com os rios estabilizando o ritmo de descida, mais duas cidades do Amazonas entraram para a lista de afetadas. Agora, a seca histórica atinge todos as 62 municípios do estado. São mais de 600 mil pessoas afetadas, segundo a Defesa Civil do Amazonas.
SubidAs análises do Serviço Geológico Brasileiro (SGB), antigo CPRM, indicam que a subida do Rio Negro em Manaus é resultado do processo de recuperação do Rio Solimões, que voltou a subir há duas semanas.
“Isso pode indicar o final da vazante na região? Ainda não. Essa fase agora seria de estabilidade dos níveis que estão muito baixos e depende da permanência das subidas nas regiões do Alto Solimões e Alto Rio Negro e do retorno do período de chuvas na bacia como todo”, explicou Jussara Cury, pesquisadora do SGB.
A seca já encerrou no Rio Solimões, na altura do Peru e Tabatinga, cidade do Amazonas que faz fronteira com o país vizinho. O nível do Rio Negro depende dos volume de água do Solimões naquela região, chamada pelos pesquisadores do SGB de “cabeceiras”.
Efeitos da seca em Manaus
Os efeitos da estiagem são mais visíveis na orla de Manaus.
- Centro e proximidades
Na Zona Sul, bairros como Centro, Educandos e São Raimundo ficaram distantes do Rio Negro, que se afastou da cidade.
- Ponta Negra e Marina do Davi
A praia da Ponta Negra, na Zona Oeste de Manaus, está interditada para o banho desde o dia 2 de outubro. É que o Rio Negro fica perigoso para os banhistas sempre que o Rio Negro fica abaixo dos 16 metros em Manaus. A estiagem deixa buracos na praia, e os desníveis podem causar acidentes, incluindo afogamentos.
Do lado da Ponta Negra, outro local também está afetado pela seca de 2023: a Marina do Davi. O pequeno porto contribui para ligar Manaus a diversas comunidades do Rio Negro.
Fotos que mostram o antes e depois do local impressionam. Parte da marina secou. Duas pequenas pontes foram construídas no local para facilitar o acesso das pessoas a lanchas e a outras embarcações.
- Lagos
Do outro lado da cidade, na Zona Leste, dois lagos secaram, o Lago Mauá, e o Lago do Aleixo. Nesses locais, comunidades que dependem das águas para atividades simples e comerciais, estão isoladas.
No Lago Mauá, uma região turística, mais 50 famílias que dependiam das águas para o trabalho e tráfego, passaram a ter dificuldade de locomoção e de acesso a água potável.
Na região desse lago, parte das casas são do tipo flutuante. Algumas residências agora estão sobre o rachão coberto de rachaduras que surgiram após o desaparecimento da água.
G1 Amazonas