ARTIGO
Que barraco!
Por Arthur Virgílio Neto
O dia de hoje foi desastroso para a CPI da Pandemia. Desvio do foco essencial, que é jogar luz nos casos de desvios de dinheiro público e formar opinião, com firmeza, serenidade e isenção, a respeito das mais de 500 mil mortes causadas pela Covid-19, em muitos casos com a cumplicidade de governantes das esferas federal, estadual e municipal.
Foi a vez de se ouvir o deputado estadual Fausto Junior, que acusou o presidente da Comissão, senador Omar Aziz, de [quando governador] ter pago mais de R$1 bilhão, a título de indenizações, na Secretaria de Saúde do Amazonas. E ligou o referido parlamentar à “famosa” Operação Maus Caminhos que, segundo o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, subtraiu dos recursos da saúde estadual mais de R$260 milhões.
O tempo fechou e Aziz passou a acusar o deputado e sua mãe, a sra. Yara Lins, conselheira do TCE, de enriquecimento ilícito. Ameaçou o deputado de prisão, depois deixou o dito pelo não dito e, afinal, anunciou que a CPI iria fazer uma devassa na vida patrimonial e profissional da doutora Yara.
Resultado: a CPI virou palco de disputas regionais e, talvez, tenha vivido seu momento mais improdutivo. O deputado, visivelmente fora do seu ambiente, e o senador, um tanto destemperado, tentando a todo custo esconder sua aliança com esse desastre público e político que se chama Wilson Lima.
Um tremendo barraco, enfim, que faria corar um Waldemar Pedrosa, um Cunha Melo, um Arthur Virgílio Filho, um Jefferson Peres, um Álvaro Maia, um Gilberto Mestrinho.
Um barraco na Casa parlamentar que nasceu para moderar arroubos menos maduros e ser a conselheira maior deste país. A Casa de Afonso Arinos, de Daniel Krieger, de Pedro Simon e de tantos outros expoentes.
O que diria Ruy Barbosa, patrono do Senado, se tivesse presenciado o “espetáculo” de hoje?
Que Deus proteja o povo brasileiro!
Sobre o autor
Diplomata, é diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do CPJUR – Centro Preparatório Jurídico; deputado federal e senador por 20 anos; duas vezes líder do governo Fernando Henrique e ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República; líder da oposição no Senado; por oito anos seguidos: três vezes prefeito de Manaus, a capital da Amazônia.
Foto – Anexa (Divulgação / Assessoria)