O Brasil iniciou a vacinação contra a Covid-19 há cerca de um mês e meio. E, como vários países, sofre com a quantidade insuficiente de doses. A campanha de imunização inclusive teve de ser interrompida durante alguns dias devido à falta de vacinas em vários estados. Atualmente, apenas a Coronavac e a vacina de Oxford/AstraZeneca estão sendo usadas no Brasil. Na semana passada, o governo federal anunciou a compra de doses da vacina Covaxin, desenvolvida pelo laboratório indiano Bharat/Biotech. Mas essa vacina ainda não tem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).Anúncios
Entre as vacinas que o Brasil pode vir a usar estão: Covaxin, Pfizer/Biontech, Vacina da Johnson & Johnson/Janssen, Sputnik V, Vacina da Moderna e Vacina da Sinopharm.
Confira a lista das seis vacinas contra a Covid-19 que o Brasil pode vir a usar e as negociações:
Covaxin
A Covaxin, vacina desenvolvida pelo laboratório indiano Bharat/Biotech e representada no Brasil pela Precisa Farmacêutica, é o terceiro imunizante que teve contrato fechado com o governo federal. Mas a Covaxin ainda não está sendo usada no país e há algumas etapas burocráticas e sanitárias a serem cumpridas.
Na semana passada, o Ministério da Saúde acertou a compra de 20 milhões de doses da Covaxin, no valor de R$ 1,614 bilhão, que deverão ser entregues entre março e maio. As primeiras 8 milhões de doses devem chegar em março.
Apesar disso, a Covaxin ainda não tem registro na Anvisa. Mas a agência já enviou técnicos à Índia para vistoriar a fábrica da Bharat Biotech a pedido da própria empresa. A inspeção iniciou na segunda-feira (1.º) e está prevista para terminar na sexta (5). Essa é uma das etapas para liberar a vacina no Brasil.
Uma reunião entre representantes da Precisa Farmacêutica e da Anvisa estava marcada para esta segunda. Mas, segundo reportagem do portal UOL, a Precisa cancelou a reunião e deverá solicitar uma nova data.
Há ainda outro entrave para o uso da Covaxin no Brasil. Na última semana, a Procuradoria do Tribunal de Contas da União (TCU) solicitou a “imediata suspensão” do contrato para a compra de 20 milhões de doses. Para o TCU, o contrato deve ser suspenso, pois não houve ainda pedido de uso emergencial, nem de estudos clínicos no Brasil.
Além do governo federal, o imunizante indiano também está na mira do setor privado. A Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVAC) deu início as negociações para a compra de cinco milhões de doses da Covaxin em janeiro.
Paralelamente, o Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein deve começar o teste da fase 3 da vacina Covaxin no Brasil. O estudo deverá ser realizado por um período de 45 a 90 dias, com previsão para o resultado em maio. Em torno de 3 mil voluntários serão testados em cinco centros de referência.
A Covaxin é aplicada em duas doses e é produzida a partir do vírus inativado. Pode ser armazenada entre 2ºC e 8ºC. Segundo a farmacêutica indiana, a Covaxin apresentou eficácia contra a Covid-19, inclusive a variante britânica do novo coronavírus. Mas o porcentual da eficácia ainda não foi divulgado.
Pfizer/Biontech
O imunizante produzido pela farmacêutica norte-americana Pfizer em parceria com a empresa alemã BioNTech foi a primeira vacina contra Covid-19 a receber o registro definitivo da Anvisa.
Estados Unidos, Reino Unido, países da União Europeia, Israel, Chile, entre outros países, já utilizam o imunizante.
No ano passado, a Pfizer chegou a oferecer 70 milhões de doses ao governo brasileiro para entrega em dezembro. Mas a compra foi recusada pelo Ministério da Saúde. A pasta considerou as condições apresentadas como “cláusulas leoninas e abusivas”.
As negociações ainda não estão encerradas, mas o principal ponto de discórdia é a exigência da Pfizer de se isentar de eventuais efeitos colaterais da vacina – cláusula contratual que a empresa farmacêutica alega ter sido aceita por todos os países que compraram o imunizante.
Uma proposta em tramitação no Congresso Nacional prevê que o poder público poderá contratar seguro para assumir os custos de eventuais indenizações referentes à vacina – o que pode destravar as negociações. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que as vacinas da Pfizer e da Janssen poderão ser adquiridas caso haja uma “autorização clara” para a flexibilização da legislação atual.
A vacina da Pfizer tem 95% de eficácia, e é aplicada em duas doses, com um intervalo de 21 dias entre cada uma delas. Os laboratórios Pfizer e BioNTech anunciaram no final de janeiro que a vacina conseguiu manter a eficácia contra as variantes do novo coronavírus do Reino Unido e da África do Sul. As empresas, no entanto, seguem monitorando a reação da vacina às novas cepas do vírus.
Em princípio, a vacina deve ser armazenada em temperaturas ultrafrias (entre – 80ºC e – 60ºC). Mas, em 25 de fevereiro, a Food and Drug Administration (FDA), a agência regulatória dos Estados Unidos, permitiu que as doses sejam transportadas e armazenadas em “temperaturas convencionais” por um período de até duas semanas. A FDA considerou que a mudança nas temperaturas comumente encontradas em freezers farmacêuticos “reflete uma alternativa ao armazenamento dos frascos não diluídos”. Isso pode facilitar o uso do imunizante.
A vacina da Pfizer é produzida utilizando RNA mensageiro (mRNA). “As vacinas de mRNA carregam o código genético do vírus que contém as instruções para que as células do corpo produzam determinadas proteínas. Ou seja, elas atuam introduzindo nas células do organismo a sequência de RNA mensageiro, que contém a receita para que essas células produzam uma proteína específica do vírus”, diz o site da Pfizer.
A partir do momento em que a proteína é processada dentro do corpo e exposta ao sistema imunológico da pessoa, este pode identificá-la como algo estranho e, assim, criar imunidade contra ele. A imunidade, representada pelas células de defesa (anticorpos) e linfócitos T dá ao organismo a capacidade de se defender quando entra em contato com o vírus.
Vacina da Johnson & Johnson/Janssen
A vacina produzida pela Janssen, laboratório farmacêutico da multinacional norte-americana Johnson & Johnson, é a primeira contra Covid-19 que pode ser aplicada em uma única dose.
A vacina ainda não tem registro na Anvisa. Mas, como o imunizante foi testado em 7 mil voluntários no Brasil, em tese o país poderia ter prioridade para fechar contrato. Isso ainda não ocorreu e poucas informações das negociações foram divulgadas até agora. Mas o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou deu a entender que haveria exigências da Janssen semelhantes às da Pfizer que só podem ser aceitas se houver mudanças na legislação – o que pode vir a ocorrer com a aprovação de propostas em tramitação no Congresso.
Além de ser uma vacina de dose única, outra vantagem do imunizante da Jonhson & Jonhson é que o armazenamento dele pode ser feito em geladeiras convencionais, e não ultrafreezeres.
No dia 19 de fevereiro, a empresa anunciou que a vacina alcançou 66% de eficácia. Segundo a FDA, a vacina registrou eficácia geral nos Estados Unidos de 72%. No caso da variante da África do Sul, a eficácia foi de 64%, segundo dados foram divulgados na última quarta-feira (24), após reanálise pela agência reguladora norte-americana. A proteção contra casos graves da doença foi de 86% nos Estados Unidos e 82% na África do Sul. Nesta semana, o laboratório iniciou a distribuição de doses nos Estados Unidos.
O imunizante é feito com vetores de adenovírus, que causam o resfriado comum. Como são modificados, eles não se replicam e não causam resfriado. Parte do código genético do coronavírus é utilizado. Segundo a Janssen, um material genético da proteína “S”, presente nos spikes (ou espigões do vírus), é colocado dentro do adenovírus, que age como o vetor, ou transportador.
“Quando a pessoa recebe a vacina composta do adenovírus não replicante que carrega a informação genética do novo coronavírus, o corpo inicia um processo de defesa e produz anticorpos contra aquele invasor. A resposta imunológica produzida por esse processo cria então uma memória no corpo contra o coronavírus e ensina o próprio corpo a reconhecer e atacar o vírus quando a pessoa entrar em contato com ele”, explica o site da farmacêutica.
Sputnik V
A vacina Sputnik V foi desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, da Rússia, e deverá fabricada no Brasil em parceria com o laboratório União Química. A empresa brasileira, em conjunto com o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF), protocolou um pedido de uso emergencial do imunizante em 15 de janeiro. Porém, o pedido foi devolvido pela Anvisa por não apresentar “requisitos mínimos para submissão e análise”. A aprovação, contudo, poderá ser facilitada, pois a Anvisa recentemente dispensou a realização no Brasil de estudos clínicos da fase 3.
Também não há novas informações sobre as negociações para o governo federal comprar a Sputnik V. No início de fevereiro, foi divulgado que o país negociava a compra de 10 milhões de doses da Sputnik V. O Ministério da Saúde autorizou a dispensa de licitação para comprar o imunizante russo.
Além do Ministério da Saúde, estados já demonstram interesse na compra da vacina russa. É o caso, por exemplo, do Pará e da Bahia.
A Sputnik V apresentou 91,6% de eficácia contra o novo coronavírus na última etapa de testes, segundo a Rússia.
Vacina da Moderna
No dia 31 de dezembro, o presidente Jair Bolsonaro chegou a comentar durante live semanal que o Brasil poderia comprar doses da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela empresa norte-americana Moderna. Mas o presidente não deu nenhum detalhe sobre uma possível negociação.
Em fevereiro, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, foi convidado por senadores para explicar o andamento do plano, e criticou o preço da Moderna. Ele afirmou que o imunizante custava 20 vezes mais do que a vacina da Oxford.
Desde então, não houve novas informações se o Brasil avançou nas negociações para a compra desse imunizante.
O vacina da Moderna tem 94,1% de eficácia. Assim como a vacina da Pfizer, também usa a tecnologia do RNA mensageiro, porém com algumas diferenças nas moléculas mRNA utilizadas.
As doses podem ser armazenadas a -20ºC, e podem ser mantidas na geladeira por 30 dias. A vacina deve ser administrada em duas doses, com intervalo de 28 dias entre cada uma delas.
Vacina da Sinopharm
No início de fevereiro, representantes da farmacêutica chinesa Sinopharm e do governo federal iniciaram conversas informais para tentar abrir negociações para aquisição da vacina. A Sinopharm não é o mesmo laboratório que desenvolveu a Coronavac (chamado Sinovac), tampouco o imunizante é o mesmo.
Segundo jornal O Globo, além do Ministério da Saúde, Bahia e Espírito Santo também manifestaram interesse na compra de doses da Sinopharm.
A vacina registrou 79,34% de eficácia, após resultados preliminares da fase 3. A tecnologia da Sinopharm é semelhante à utilizada na Coronavac, com vírus inativado.
Fonte: Gazeta do Povo