Concerto apresentado, na noite desta segunda-feira (30/11), teve ópera de Richard Wagner, compositor antissemita admirado pelo Terceiro Reich. Presidente Jair Bolsonaro esteve presente na cerimônia. FAB ainda não se manifestou sobre o assunto.
Presente nas comemorações alusivas aos 80 Anos da Força Aérea Brasileira (FAB), o presidente Jair Bolsonaro foi recepcionado, na noite desta segunda-feira (30/11), com uma ópera do compositor alemão Richard Wagner (1813-1883). O artista ficou conhecido pelo antissemitismo e foi exaltado pelo Terceiro Reich, como símbolo de música nacionalista pelos nazistas.
Wagner morreu antes da ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, mas exerceu forte influência sobre a doutrina nazista. Era um dos principais compositores usado na propaganda nacional-socialista comandada pelo Führer. Não é a primeira vez que o compositor alemão vira referência durante o governo do presidente Jair Bolsonaro. O ex-secretário Nacional de Cultura, Roberto Alvim, tinha Richard entre seus artistas prediletos.
A ópera tocada no evento desta segunda-feira foi Os Mestres Cantores de Nuremberg: Prelúdio. Como parte das comemorações alusivas aos 80 Anos da FAB, foi realizado o Concerto de Estreia da Orquestra Sinfônica da Força Aérea Brasileira. Transmitido pelo YouTube, o evento começou às 20h. Além do presidente, outras autoridades estiveram presentes. Jair Bolsonaro não se pronunciou na solenidade.
Em janeiro do ano passado, o secretário nacional da Cultura Roberto Rego Pinheiro, conhecido como Roberto Alvim, foi exonerado após um discurso no qual usou frases semelhantes às usadas por Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler durante o governo nazista. Alvim também apresentou, ao fundo, uma música de Richard Wagner.
O Correio entrou em contato com a FAB, mas até o momento não obteve resposta. O espaço permanece aberto para manifestação do órgão.
Quem foi Richard Wagner
Além do talento para a música, o compositor Richard Wagner (1813-1883) ficou conhecido pelo antissemitismo — uma das razões para ser reverenciado por Hitler. O autor, que pertencia ao grupo conservador dos “nacionalistas alemães”, teria publicado nos anos 1850 e 1869 um panfleto denominado “Sobre o Judaísmo na Música”, no qual menosprezava a produção artística de judeus contemporâneos a ele, como Giacomo Meyerbeer e Mendelssohn-Bartholdy.
“As composições de Richard Wagner eram sempre tocadas nos comícios do governo nazista. Nos dias de hoje, os historiadores rotulam a idéia do ‘germanismo ariano’ dentro das obras do artista. A corrente wagneriana dos dias atuais está sempre em aproximação com Hitler”, explica ao Correio o historiador pela Universidade de Brasília (UnB) Jonas Carreira.
O historiador Gustavo Glielmo destaca que em Israel, por exemplo, o compositor ainda hoje causa mal-estar. “É de muito mau gosto tocar Richard Wagner em Israel. Por esse mesmo motivo. Muitos músicos de renome já tiveram problemas porque insistiram em tocar Richard Wagner no país”, afirma.
Glielmo ressalta que, apesar de ser exaltado, Wagner não pode ser considerado nazista, pois viveu muito antes do Terceiro Reich. “Richard é muito anterior ao nazismo. Ele morreu no século 19, e o nazismo é do século 20. Os nazistas encontraram alguma inspiração nele, mas ele não contribuiu em nada com o nazismo”, diz. “Richard Wagner era um antissemita declarado. Era um compositor admirado por Hitler, sem dúvida alguma. O músico era entendido pelo nazismo como parte das raízes culturais alemãs”, conclui.
Fonte: Correio Braziliense
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