Rebeca Andrade colocou mais uma vez seu nome na história do esporte brasileiro hoje (1) ao se tornar a quarta mulher a conquistar uma medalha de ouro em competições olímpicas individuais, depois de Maurren Maggi, Rafaela Silva e Sarah Menezes. A ginasta, que já havia ganhado a prata no individual geral, desta vez ganhou o ouro no salto nas Olimpíadas de Tóquio. Ela é, também, a primeira brasileira a conquistar duas medalhas na mesma edição dos Jogos Olímpicos.
Na final do salto, diferentemente dos outros aparelhos, cada atleta se apresenta duas vezes, com saltos que necessariamente precisam ser diferentes. Rebeca foi a terceira a se apresentar e abriu sua apresentação com um Cheng, que tem nota de partida 6,0. A execução não foi tão boa quanto das eliminatórias e da final do individual geral, quando tirou duas vezes 9,4, e dessa fez a brasileira recebeu 9,266, perdendo mais 0,1 por pisar fora do colchão. Total, 15,166.
No segundo salto, a surpresa. Rebeca trocou um exercício de 5,4 de nota de partida por um de 5,8, o Amanar. Com execução 9,2, ela recebeu nota 15,000 e ficou com média 15,083. Poderia não ser suficiente para o ouro, porque a próxima a se apresentar, Jade Carey, dos Estados Unidos, tem nível para superar isso. Mas a americana errou no primeiro salto, recebendo só 11,933, e deu adeus à disputa pelo pódio.
Na sequência, um susto. A sul-coreana Yeo fez um salto de nota de dificuldade 6,2 e alcançou nota 15,333. Se ela tivesse outro bom salto, nem precisava ser ótimo, ficava na frente de Rebeca. Mas ela não tinha. Na segunda apresentação o movimento foi bem mais simples e, mesmo se o acertasse, Yeo não passaria a brasileira. Errou e não passou. Aí foi só esperar as apresentações das demais atletas, mais fracas no salto, para o ouro ser confirmado.
A prova não contou com Simone Biles, que havia passado para a final com a primeira colocação nas eliminatórias. A norte-americana, considerada a melhor ginasta do mundo, sentiu-se mal durante a apresentação no salto na final por equipes e, por segurança, pensando na sua segurança física e mental, retirou-se da competição.
Não se apresentou nos demais aparelhos na final por equipes e não competiu na final do individual geral, que define a ginasta mais completa. Sem ela, a vitória ficou com a norte-americana Sunisa Lee e a prata com Rebeca. Ontem (31) Biles anunciou que não competiria nas duas finais de hoje, no salto e nas barras assimétricas. Hoje (1), que também não participa do solo, amanhã (2). A dúvida é se ela compete na trave, terça (3).
1ª final do salto em grandes competições
Essa foi a primeira vez que Rebeca disputou uma final de salto em grandes competições, mas não por falta de talento para isso. Desde que chegou à categoria adulta, em 2015, ano em que completou 16 anos, como exige a ginástica artística feminina, a brasileira ou estava machucada nos principais eventos ou foi poupada exatamente para não se machucar.
Ela perdeu os Jogos Pan-Americanos de 2015 e 2019 por lesões no ligamento anterior cruzado (LCA) do joelho direito, assim como os Mundiais de 2015, 2017 e 2019. Ela só participou de grandes competições em anos pares, e se recuperando dessas lesões, cujas recuperações levam de seis a oito meses em esportes de menos impacto no joelho, e ainda mais para se executar exercícios na altura que Rebeca alcança.
Para se classificar a uma final de salto é necessário apresentar dois saltos diferentes na fase de classificação. O que vale para classificação para individual geral e final por equipes, é um extra. Para não colocar o joelho em risco, Rebeca não fez esse salto extra nem na Rio-2016, em que teve a quarta melhor nota da fase de classificação no primeiro salto, nem no Mundial de 2018, em que sua nota foi a terceira melhor.
Agora Rebeca está há dois anos sem lesão e a comissão técnica entendeu que ela estava em condições físicas e psicológicas de fazer um segundo salto na classificação para pegar final e permitir que a brasileira brigasse por medalha hoje. E aí ela mostrou todo seu repertório