Com estimativa de mais de 35 mil índios distribuídos nas áreas urbana, rural e ribeirinha, o acesso aos serviços de Atenção Primária à Saúde da Prefeitura de Manaus é garantido de forma igualitária a esse grupo, como qualquer usuário do Sistema Único de Saúde (SUS). “Temos um compromisso social e histórico com os nossos indígenas. Eles são, em síntese, as nossas origens”, diz o prefeito Arthur Virgílio Neto.
Com a pandemia de Covid-19, provocada pelo novo coronavírus, as famílias indígenas, consideradas não aldeadas ou tribos urbanas, estão recebendo também as orientações para o isolamento social, o distanciamento, higienização e estão inseridas na campanha de vacinação contra influenza, conforme o calendário estipulado pelo Ministério da Saúde para os diversos públicos.
“Nossa preocupação é com todos que residem em Manaus, não importa se é nativo, migrante de outras cidades brasileiras e até de outros países. Cada morador da nossa cidade merece a mesma atenção e cuidado. Os indígenas estão aqui há mais de 10 mil anos, muito antes da população branca fazer história, e precisam ser vistos com um olhar de amor e cuidado”, afirma o prefeito Arthur Neto.
Esses povos estão divididos em bairros como o Parque das Tribos, o Tarumã e o Santos Dumont, na zona Oeste; nas comunidades Sol Nascente e Monte Horebe, na zona Norte, além de áreas rurais terrestres – estradas, ramais e vicinais – e em comunidades dos rios Negro e Amazonas. Eles pertencem as etnias Apurinã, Baniwa, Dessana, Kokama, Munduruku, Mura, Piratapuia, Maué, Tukano, Wanano, Sateré-Maué, entre outras.
“É muito difícil trabalhar números reais, porque há o distanciamento geográfico e o senso está desatualizado, além disso, muitos não fazem a autodeclaração e nem o registro no e-SUS, mas a estimativa que temos é de que, aproximadamente, 35 mil indígenas das diversas etnias vivem nos limites de Manaus, grande parte deles na própria área urbana e outros espalhados na área rural, tanto terrestres quanto fluvial”, explica a chefe do Núcleo de Saúde dos Grupos Especiais da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), Wanja Dias Leal.
Alex Pazuello
Em Manaus, a população indígena é atendida por todos os serviços prestados pela rede municipal e, principalmente, nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) Lindalva Damasceno (Tarumã), UBSF O-06, O-22 e O-38, Leonor de Freitas (Compensa), Santos Dumont (Santos Dumont), Bairro da Paz (Bairro da Paz), Dr. José Rayol dos Santos (Chapada), Megumo Kado (Educandos), Mauazinho, Ivone Lima, Avelino Pereira, Silas Câmara e UBSF L-21, L-42, L-45 e Ana Barreto (São José), além dos Posto de Saúde Rural São Pedro (AM 0-10, Km 35) por estarem mais próximas às áreas de maior concentração de indígenas.
Calhas
Para atender as comunidades situadas nas calhas do rio Negro e Amazonas, que estão entre uma hora e meia – para distâncias curtas – até seis horas – em deslocamentos mais longes – de Manaus, as equipes se deslocam em unidades fluviais.
“O atendimento a esses usuários segue as mesmas recomendações e o fluxo de atendimento aos demais munícipes da capital, reforçando orientações para o isolamento social, distanciamento seguro, uso de máscaras individuais e adoção de medidas essenciais de higiene”, informa Wanja Leal.
Os casos confirmados de Covid-19 seguirão o fluxo estabelecido pela Atenção Primária da capital e serão devidamente monitorados pelas coordenações distritais da Semsa. O monitoramento de possíveis casos ocorre semanalmente, porém, até o momento, não há registros confirmados de casos na capital entre a população indígena local.
Vacinação
Alex Pazuello
Na sexta-feira (17), o Parque das Tribos recebeu uma equipe de 25 profissionais de saúde da Prefeitura de Manaus, que foram à localidade para dar continuidade a campanha vacinal contra a gripe. O público continua sendo os idosos, acima de 60 anos.
A comunidade estava preparada para a chegada dos profissionais, como foi o caso da indígena Olga Marcelino, da etnia Dessana, moradora do bairro há três anos. Com documento de identidade e comprovante de vacina nas mãos falou da importância da vacinação para a sua comunidade e agradeceu a equipe de imunização. “É muito humano esse trabalho de vacina e agradeço muito que temos vocês que fazem isso por nós. Peço a Deus pela saúde de vocês para continuarem trabalhando. Nós estamos seguindo as orientações e estamos em casa”, disse a indígena de 62 anos.
Usando máscaras e esperando na entrada de casa, o casal Adelita Rita, 62, e José Ladislau, 72, ambos da etnia Tariana, sabem bem o quanto é importante o isolamento social e também a necessidade de tomar a vacina. “Essa equipe é importante para nós porque é muito difícil sair daqui. Estamos fazendo de tudo para nos prevenir, sem ficar saindo, lavando as mãos e se alimentando bem. Eu vejo na minha rua que todos nós estamos nos prevenindo”, disse a indígena contente por ter sido vacinada juntamente com marido.
Juntos na prevenção
Empenhada em ajudar a comunidade a se prevenir e enfrentar a pandemia, a moradora Wanderléia dos Santos, da etnia Witoto, explicou que por ser técnica de enfermagem está capacitada a auxiliar os moradores. Segundo contou, está fazendo o que pode para levar informações até eles, com vídeos produzidos e distribuídos em grupos de mensagens instantâneas e buscando doação de tecido para a confecção de máscaras, que são distribuídas na comunidade.
“Fiz pequenos vídeos orientando sobre a importância da lavagem das mãos e do uso de máscaras, que estão sendo confeccionadas pelas próprias mulheres da comunidade. E, hoje, estamos recebendo o apoio da Semsa com a vacinação para os idosos da comunidade. As equipes indo nas casas evitam as aglomerações e todo mundo segue a recomendação de ficar em casa”, disse Wanderléia.
Ela finalizou fazendo um apelo aos indígenas do bairro que evitem aglomerações, mantenham-se em casas, façam uso de máscaras e lavem bem as mãos. “Temos o costume de nos reunirmos nas rodas de chibé, onde tomamos nosso caldo de farinha de mandioca juntos. Mas agora não é a hora. Vamos deixar para tomarmos nosso chibé mais tarde para comemorarmos quando tudo isso passar”, pediu.
Enquanto os vacinadores circulavam pelo bairro, Brasiléia Barroso, também na etnia Witoto, colocava sua máquina de costura para trabalhar na confecção de máscaras. “Fico muito satisfeita em ajudar nossos parentes e amigos que não têm condições de comprar máscaras para que se protejam do jeito que dá”, falou, sem deixar que a máquina de costura parasse.
Fonte: em tempo