Lara da Silva virou meme em 2015 com o vídeo de briga na escola e o bordão “Já acabou, Jéssica?”. Mas embora muitos tenham se divertido com as cenas, a vida da jovem, na época com 12 anos, foi impactada negativamente por isso.
Hoje aos 18, ela move ações na Justiça contra as emissoras de televisão e plataformas nas quais a cena foi exibida, pedindo a exclusão das imagens e indenização por danos materiais e morais. A outra menina que aparece no vídeo também entrou na Justiça.
Lara foi alvo de bullying e abandonou a escola após a repercussão do vídeo, passando a se automutilar [comportamento conhecido como ‘cutting’], e deu início a um tratamento psiquiátrico. “É uma coisa que eu ainda não aceitei totalmente. Se eu parar pra pensar demais nisso, me faz mal. Não é algo que eu goste, mas é uma coisa que aconteceu, não tem como voltar atrás”, disse ela à BBC News Brasil.
“Não consegui estudar, porque me zoaram muito e eu fiquei muito mal com isso”, diz ela, ao lembrar o retorno às aulas após a repercussão.
Percebendo o seu sofrimento, os pais de Lara resolveram tirá-la da escola. Ela foi proibida de acessar a internet pela mãe, para que não se abalasse com os comentários sobre o vídeo. A família passou alguns dias isolada, mas ao retornar, a situação havia aumentado. “Quando voltamos, vi que as pessoas continuavam falando sobre isso. Passava muitas vezes na televisão”.
A menina passou a se automutilar e a ficar somente em casa ou no máximo ir a lugares próximos com a mãe. “Mais ou menos uns quatro dias depois da briga, comecei a me cortar, por causa de tudo o que estava acontecendo. Depois da primeira vez, virou um vício. Passei a me cortar cada vez mais fundo e em mais lugares. Quando acontecia alguma coisa, como quando via alguém debochando de mim na rua ou acontecia algo que me deixava triste, eu me cortava”, disse.
A mãe foi atrás de psicólogo para acompanhar a filha, mas achou dificuldade de achar algum profissional que aceitasse na pequena cidade: “Foi muito triste. Quando eu falava que ela estava se cortando, os psicólogos diziam que era um caso de difícil tratamento. Tive que buscar atendimento em outra cidade”.
Com o tratamento em uma cidade a duas horas de distância, ela pegava carona em uma ambulância do município, saía de manhã e só retornava à tarde.
Ela ainda foi diagnosticada com depressão, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e transtorno de ansiedade. “Cheguei a tomar sete remédios por dia”, diz Lara. Na ação judicial, a defesa da jovem destaca o tratamento psiquiátrico.
Ela ficou tão abalada que não conseguiu colher os frutos da fama, que para ela foi negativa. “Na época (no fim de 2015), ofereceram R$ 5 mil pra ela participar de uma propaganda (de uma operadora de telefonia), mas eu não quis. Se a minha filha tivesse ficado famosa por uma coisa boa, que somasse, tudo bem. Mas não foi isso”, diz a mãe Deusiana.
“Já me falaram: nossa, você tá com a faca e o queijo na mão (para lucrar com a fama) e é só cortar. Mas eu nunca gostei de briga, como vou querer ficar famosa por causa de uma briga? É uma coisa que não me fez bem e que não engulo até hoje”, completa Lara.
Até hoje, a repercussão assombra a jovem, que ainda é alvo de comentários referentes ao vídeo. Seis anos depois, ela concedeu uma entrevista, e revelou o motivo de ter aceitado agora: “Ninguém nunca me perguntou como tudo isso me impactou”.
A jovem que ficou famosa na internet contra a sua vontade relembrou, ainda, o fatídico dia. No vídeo, Lara está caída no chão, na saída da escola estadual no município de Alto Jequitibá. A colega Jéssica está em cima dela, e após conseguir se levantar, Lara dispara: “Já acabou, Jéssica?”.
“Quando eu me levantei, pensei: ‘ela me jogou no chão, me bateu enquanto eu estava caída e agora vai correr?’. Foi quando eu disse a frase, que depois se tornou um inferno na minha vida”, disse. A briga teria sido motivada, principalmente, por conta de um garoto com quem Jéssica namorava.