Ativistas de todo o Brasil protestaram avenida Paulista, em São Paulo, para reivindicar o fim da doutrina que incentiva corte de laços familiares presente na revista e no site das Testemunhas de Jeová

Mães, ex-Testemunhas de Jeová, que perderam o contato com os filhos, após saírem da religião, protestaram, neste domingo (11), para pedir a revogação da doutrina que incentiva fim da convivência com ex-fiéis.

As ativistas informam que a revista “A Sentinela”, deste mês de maio, estudo 19, parágrafo 15, produzida pela igreja, orienta cortar contato com ex-fiéis, e até com a própria família, como “ato de bondade”.

Sob o tema “Imite o exemplo dos anjos”, a publicação diz: ‘Nós paramos de ter convivência com a pessoa… quando cortamos o contato com quem foi removido, na verdade, estamos sendo bondosos com essa pessoa”. A publicação sugere que cortar contato pode ajudar a pessoa a “voltar para Jeová”.

A mineira, Eliane Alves, secretária do lar, conta que está bloqueada no aplicativo de mensagem instantânea Whattsapp pela filha há, aproximadamente, 2 anos, desde que comunicou a saída da igreja das Testemunhas de Jeová.

“Eu informei à minha filha sobre a decisão de sair da organização. Mas ela me disse que nossa relação de mãe e filha dependia de eu ser ‘fiel a Jeová’ e permanecer obediente à igreja. Hoje, encontro minha filha na rua e ela me trata como uma estranha. Entendo que ela me ama como maior amor do mundo e que, no momento, está apenas obedecendo a ordem dos anciãos (pastores), que se baseia na revista ‘A Sentinela’. Caso, ela comece a interagir comigo e seja de conhecimento dos anciãos, ela também poderá ser penalizada com remoção da igreja e, consequentemente, perder contato com os amigos da igreja”, explica Eliane.

‘Jamais vou abandonar minha filha’

Jacira Amaral, que integra o Movimento de Ajuda Às Vítimas das Testemunhas de Jeová e já participou de manifestações em Brasília e em São Paulo comenta que a intenção dela é alertar outras pessoas sobre esta doutrina, antes de entrar na religião. “É um fardo muito grande para uma mãe que sai da religião e os filhos ficam, porque sabemos que o corte de contato é incentivado. Minha filha, por exemplo, foi abandonada pelo marido e os anciãos queriam que eu a abandonasse. Falei que jamais iria abandonar minha filha, pelo que ela estava passando. Como mãe, acolhi e apoiei minha filha. Fui totalmente contra, minha família é carne da minha carne, sangue do meu sangue. Jamais rejeitaria um filho por conta de religião. Quando senti essa pressão sob a estrutura da minha família, decidi sair da igreja e apoiar a minha filha”, explica Jacira.

Mãe não fala com filho
Natural do Rio de Janeiro, Claudia Araújo revela que criou o sobrinho como filho desde os 6 anos de idade, dento da igreja. Ele alcançou o cargo de liderança e, hoje, é superintendente de circuito (posto de confiança da denominação), e, hoje, não fala mais com ela e incentivou o filho biológico de Claudia a também cortar relações com ela.

“Meu sonho é poder ter uma vida normal, como todas as mães, com meu sobrinho/ filho, ter um almoço de ‘Dia das Mães’ com eles juntos a mim. Ir ao shopping, numa festa, coisas normais de mãe e filho. Mas, infelizmente estas orientações para cortar contato são reais e os membros ativos, seguem, assim como eu segui um dia, porque considerava que discriminar ex-membros era “obediência e fidelidade a Deus”. Vivemos um dia de cada vez, aguardando o momento em que a liderança irá revogar essa doutrina nas revistas e no site”, informa emocionada Cláudia.

Site orienta ‘corte social’

Na revista “A Sentinela” deste mês, estudo 19, parágrafo 15, diz: “Infelizmente, alguns cometem pecados graves e precisam ser removidos da congregação. Nesses casos, nós ‘paramos de ter convivência’ com a pessoa. (1 Cor. 5:9-13) Isso ajuda a manter a congregação pura. Além disso, quando cortamos o contato com quem foi removido, na verdade, estamos sendo bondosos com essa pessoa. Como assim? É porque isso pode ajudar a pessoa a entender que ela precisa voltar para Jeová. E se ela voltar, vamos ficar extremamente felizes, junto com Jeová e os anjos. — Luc. 15:7.”*em anexo
Fonte: https://www.jw.org/pt/biblioteca/revistas/sentinela-estudo-maio-2025/

MAV – TJ

O Movimento de Ajuda às Vítimas das Testemunhas de Jeová (Mav – TJ) surgiu em 2024 com as primeiras manifestações, em Brasília (DF). O grupo busca denunciar apologia a discriminação institucionalizada nos sites e revistas da igreja e sensibilizar a liderança da igreja, que este tipo de apologia, pode levar a suicídios, depressão e demais problemas mentais, pelos cortes abruptos de relações familiares.

“Embora saibamos que a liderança das Testemunhas de Jeová vem a público informar que cessar contato com parentes é uma decisão pessoal, nós , ex-Testemunhas de Jeová, sabemos que a verdade não é essa. O próprio site oficial e revistas reforçam que é para manter a discriminação a ex-membros como “prova de fidelidade e obediência a Jeová”’. Com isso, famílias, amizades e casamentos são desfeitos, avós caem em depressão, pais são proibidos de conviver com filhos, tudo sob o monitoramento dos anciãos (pastores), que fiscalizam e punem com expulsão pública, quando sabem que algum membro está conversando com algum ex-fiel”, explica o ativista pró-direitos humanos.

Yann Rodrigues foi expulso de casa pelos pais aos 15 anos, por não desejar mais frequentar a igreja. Antes disso, era proibido até de senta-se à mesa com a família, que justificava a discriminação com textos da bíblia.

Adriano Gonçalves que integra a Associação de Vítimas das Testemunhas de Jeová na Espanha também está à frente dos atos que acontecem em São Paulo. Ele é ex-ancião e ex-Teatemunha de Jeová com canal no YouTube. No Instagram, siga @mav_tj. No YouTube – Adriano e a Voz dos que não falam.