O Instituto Butantan apresentou hoje a ButanVac, candidata a ser a primeira vacina 100% brasileira. Com insumos produzidos nacionalmente, o instituto informou que pretende pedir ainda nesta sexta-feira à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a autorização para a realização de testes em humanos.
Produzida com tecnologia semelhante à vacina da gripe, cujo Butantan é o maior produtor do hemisfério sul, a ButanVac é considerada pelo instituto uma vacina da segunda geração. Veja o que já se sabe sobre a primeira vacina brasileira
Tecnologia semelhante à da gripe
A ButanVac tem um processo semelhante à da vacina da gripe (influenza). Ela usa um vetor viral com a proteína Spike do coronavírus completa para produzir o vírus inativado que gera a resposta imunológica à doença.
Como o vetor usado é da doença de Newcastle, uma infecção que afeta aves e não causa sintomas em humanos, o vírus é desenvolvido em ovos embrionados, enquanto a CoronaVac, por exemplo, que também usa vírus inativado, é desenvolvida em células.
Resposta maior que CoronaVac em animais
Até então, a vacina só foi testada em animais-padrão. Segundo Dimas Covas, diretor do instituto, estes testes pré-clínicos geraram uma resposta imunológica dez vezes maior do que a CoronaVac.
Testes em humanos devem iniciar em abril
O Butantan anunciou que deverá pedir ainda hoje à Anvisa a autorização para a realização de testes em humanos e, caso autorizado, pretende iniciar já em abril.
Segundo o instituto, serão 1.800 voluntários para as duas primeiras fases, que devem avaliar reações indesejáveis e dosagem (quantidade e possibilidade de ser uma ou duas doses) e mais 9.000 para a terceira fase, a mais importante, que avalia segurança e eficácia.
Como o chamamento de voluntários só pode ser feito após a liberação da Anvisa, o Butantan ainda não divulgou o perfil dos testados, mas devem ser adultos acima de 18 anos e fora dos grupos de risco.
É da segunda geração
A ButanVac será uma das primeiras vacinas do mundo chamadas de “segunda geração”, ou seja, produzidas com uma expertise prévia adquirida com vacinas anteriores, como CoronaVac e AstraZeneca/Oxford.
Segundo Dimas, isso a torna ainda mais confiável e eficaz. “Já uma vacina 2.0. Aprendemos com as vacinas anteriores e já sabemos o que é [combater o vírus]”, disse o pesquisador.
Produção para maio e distribuição para julho
De acordo com o governador João Doria (PSDB), se tudo ocorrer como previsto, o Butantan pretende começar a produzir a vacina para distribuição já em maio, durante a realização dos testes e mesmo antes da aprovação final da Anvisa.
Essa tática, adotada previamente com a CoronaVac, faz com que a produção seja acelerada e, quando liberada, já tenha um contingente maior para distribuição, prevista para julho.
40 milhões para o primeiro ano
A ButanVac será produzida em uma fábrica do Butantan diferente da atual e não deverá afetar na produção da CoronaVac, imunizante produzido junto à chinesa Sinovac. Neste primeiro ano, o Butantan prevê a produção de pelo menos 40 milhões de doses.
Faz parte de consórcio internacional
A ButanVac faz parte de um consórcio internacional com o IVAC (Instituto de Vacinas e Biologia Médica), do Vietnã, e a Organização Farmacêutica Governamental da Tailândia, com testes realizados também nestes países.
Segundo Doria, assim que todo o contingente nacional for vacinado um dos objetivos do consórcio será fornecer a ButanVac para países de baixa e média renda.
Fonte: UOL