No consultório do cirurgião-dentista, Dr. Mike Ezequias, dois pacientes receberam, nesta semana, um atendimento mais cuidadoso e tranquilizador do que o habitual. Foram agendados para o primeiro horário da manhã para que não tivessem de esperar. Vinicius Andrade, de 18 anos e Vitória, de 12 anos, ambos com paralisia cerebral, estavam há meses sem se alimentar direito por sentirem fortes dores os dentes. Os pais, por intermédio de instituições sociais, encontraram numa clínica do bairro do Coroado, Zona Leste de Manaus, o cuidado que tanto procuravam para os filhos PCD (Pessoas com Deficiência).
O jovem Vinicius, que além de ter paralisia cerebral, sofre com as convulsões diárias, estava definhando mesmo com o empenho e as orações do pai pastor, que trabalha em casa como desenvolvedor de aplicativo para cuidar do rapaz. “Têm dias que o meu filho tem 20, 30 convulsões. Em três situações, foi dado como morto pelos médicos. Apesar de tudo, é um menino saudável, que come bem. Antes da pandemia, foi parando de comer e colocando a mão no queixo com frequência. Eu, com muito esforço, abri a boca dele e vi os dentes cariados. Tentei o atendimento pela UEA (Universidade do Estado do Amazonas). Ele tá agendado há meses e ninguém chama. Busquei atendimento na rede particular, mas ninguém quer atender uma pessoa que se mexe a todo momento e precisa de camisa de força. Nestes meses todos, quando via que ele tava muito ruim, eu reza sete vezes o salmo 91 e chorava muito por não poder ajudá-lo”, relatou emocionado, o pai Sidney Pereira de Andrade.
Economizando o pouco que recebe como profissional liberal, Sidney agendou uma consulta com um dos poucos dentistas particulares que atendem PCDs em Manaus. Enquanto aguardava a data, foi informada por amigos pastores que um dentista da Zona Leste de Manaus realizava este tipo de atendimento por intermédio de instituições sociais. “Nem acreditei quando soube. O Dr. Mike foi um anjo que apareceu na nossa vida. Ele se dispôs a atender o Vinicius através de uma instituição. Senti um grande alívio e agradeci muito a Deus. Tenho oito filhos para manter e não tenho condições de dar tudo o que o Vinicius precisa”, disse Sidney. O rapaz foi atendido e se recupera bem da cirurgia. Futuramente, deve retornar para dar continuidade ao tratamento.
Atendimento diferenciado
Dr. Mike Ezequias, especialista em implantes dentários, em harmonização estética orofacial, em prótese buco-maxilo-facial e harmonização estética orofacial, desenvolveu trabalho voluntário em instituições como a Associação de Apoio Lar de Vitórias e realiza atendimentos de PCDs em sua clínica por intermédio de instituições sem fins lucrativos a fim de minimizar os problemas dentários de crianças, adolescentes e adultos. “Como profissional da área de saúde, acompanhei a saga de muitos pais e mães em busca da atenção especializada para os filhos que sofrem, muitas vezes em silêncio. Não consigo me omitir. Sempre que sou procurado, abro espaço na minha agenda para os que só encontram portas fechadas”, declarou Dr. Mike.
O profissional desenvolveu um atendimento tranquilizador e minimamente invasivo para tratar os dentes de PCDs. “Muitos pacientes dessa categoria eram tratados no passado com anestesia geral, mas isso é um grande risco. Alguns têm a saúde tão debilitada que podem não suportar tanta sedação. Procuro acalmá-los o máximo possível, aplico a anestesia local e conto com o apoio dos parentes para imobilizá-los, fazendo o papel de contenção. Isso não impede alguns contratempos. No atendimento da Vitória, que estava com dentes em péssimo estado, eu e minha assistente fomos mordidos, mas o fato não nos impediu de realizar o procedimento e eliminar a dor da criança”, detalhou.
No Brasil, não há registro preciso do número de pacientes PCDs que aguardam por atendimento odontológico. Considerando os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aponta que pelo menos 45 milhões de brasileiros apresentam algum tipo de deficiência, tem muita gente sofrendo com dor de dente em casa. Dr. Mike, profissional experiente, afirma, que dos inúmeros procedimentos que realiza, esse é um dos mais gratificantes. “O que nos recompensa é saber que eles poderão ter mais qualidade de vida. Quem já enfrenta tantas dificuldades, deve ter o direito de não sofrer”, afirmou Dr. Mike.