22/10/2020 14h56
O atleta do século completa seus 80 anos nesta sexta-feira (23) com o físico golpeado pela vida. O homem que encantou o mundo com seus piques, sua elasticidade, sua força muscular vem sofrendo com a dificuldade para caminhar. Seria normal até pela idade. Seria humano. Mas só não é normal porque se trata do maior símbolo do esporte mundial.
“Estamos empenhados em fazer o Pelé voltar com tudo”, garante Eduardo Gomes, geriatra e especialista em medicina ortomolecular.
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Há uma grande chance de que o Rei do Futebol possa se fortalecer novamente e recuperar boa parte dos movimentos, perdidos com uma cirurgia no quadril não muito bem sucedida. “Ele perdeu quase toda a sua musculatura, mas a medicina está muito avançada hoje. E eu acredito que ele se recupere através de tratamento feito à base de testosterona [hormônio masculino] pura, isomolecular, ciência que foi desenvolvida nos Estados Unidos e que chegou ao Brasil há apenas 1 ano e sete meses”, afirma o médico, que é amigo do Pelé há 42 anos.
“Eu dei a sugestão ao Pelé para se tratar por esse novo método e ele disse que vai fazer sim. E eu tenho a convicção de que vamos trazê-lo de volta. Agora depende só dele”, comenta Eduardo Gomes. “O tratamento foi desenvolvido pelo médico ítalo-americano Gino Tutera e recupera a musculatura. Nossos músculos são alimentados pela testosterona e, através do tratamento, ela vai sendo injetada lentamente no corpo. Corrige e deixa os músculos em ordem”.
O método foi trazido ao Brasil pelo urologista Wilson Della Paschoa Júnior, que tem consultórios em São Paulo e Goiás. O médico já conversou com o médico de Pelé e se colocou à disposição do Rei.
“Provavelmente ele passará por um check-up em nossa clínica em São Paulo agora no começo de novembro”, garante o doutor Wilson. “O tratamento é feito à base de implantes hormonais subcutâneos de testosterona da Sotto-Pelle, empresa que trabalha com esse método há 28 anos nos Estados Unidos. Através de um programa de computador, se usa os dados obtidos nos exames de sangue e radiológicos para definir uma dose personalizada de testosterona. A partir dessa dosagem, se calcula os implantes. Eles são um pouco maior que um grão de arroz e são colocados com anestesia local sob a pele do paciente [sotto pelle, em italiano, daí o nome do método]. Esses implantes liberam hormônio 24 horas por dia durante seis a dez meses. É uma tecnologia de ponta”, explica o urologista.
Wilson Della Paschoa Júnior, que é o médico-certificador no Brasil desta terapia e membro da Sociedade Americana de Andrologia, garante que, após o tratamento, Pelé ganhará massa muscular de novo.
“O objetivo maior é reproduzir a produção fisiológica da testosterona. Aos 70 anos, o corpo produz um terço do que produzia aos 20 anos. Eu digo que a testosterona é o hormônio da vida: traz a energia, a disposição, a libido, a ereção, o sono, a imunidade, o intelecto e a memória e a massa óssea muscular. Creio que, se o Pelé concordar, vamos ajudá-lo sim a chegar até os 100 anos com a vitalidade perdida após a cirurgia na bacia. Ele vai recuperar a força muscular e a estrutura óssea”.
E o doutor Eduardo Gomes já conversou muito sobre o caso com o urologista. E também está esperançoso. “Eu tenho a convicção de que o Pelé vai recuperar os movimentos. Hoje ele ainda usa o andador para se locomover, mas isso vai mudar. Eu acredito e muito nessa possibilidade.”
E quem faz essa previsão não é apenas um profissional da medicina. Eduardo Gomes é um dos amigos históricos de Pelé, daqueles capazes de emprestar o apartamento com cama redonda para o Rei em suas passagens pela capital paulista ou ainda dividir a suíte do hotel Excelsior na Copa do Mundo da Itália, quando se esqueceram de reservar um quarto para o amigo-médico.
“E na época Pelé estava com a namorada Flávia Cavalcanti, Miss Brasil de 1989, da qual ele foi noivo e me confessou um dia que com ela se casaria, sim”, relembra o doutor Eduardo Gomes. “A suíte era enorme e não houve qualquer problema”, conta o médico, que também estava acompanhado.
“Um aniversário inesquecível com o Rei? Lembro de um que passamos no apartamento dele em Nova York, na Segunda Avenida com a 27. Ele estava com uma namorada que era Miss Brasília e eu com a Miss Paraíba. Mas não lembro o ano”.
Aos grandes amigos, sobram aventuras passadas durante muito tempo.
“Nossa amizade tem 42 anos e eu não me conformo ainda com a cirurgia a que ele foi submetido. Eu era contra, mas Pelé foi convencido a operar.”
O médico Eduardo Gomes explica que um erro de avaliação pode ter sido a causa da perda da mobilidade do Rei. “O Pelé sofria de um desgaste no quadril e estava tratando. Foi aí que ele teve uma fratura de coluna espontânea, por estresse. E começou a sentir muitas dores. Os médicos acharam que o desgaste no quadril estava se agravando. E não era isso. Era a coluna. Eu continuo achando que não precisava ter operado. E se fosse para operar, que fosse nos Estados Unidos. Mas ele operou aqui e deu zebra”, diz Gomes.
“Poucos ficaram sabendo, mas o Pelé foi reoperado em Nova York. Consertaram, mas não ficou muito bom”.
Muita gente atribui a situação atual a uma fisioterapia que não teria sido feita com a seriedade necessária pelo Rei, que ainda se achava o jovem atleta do século, privilegiado pelos deuses da natureza.
“Não foi nada disso, não foi a fisioterapia não. Foi erro de diagnóstico, na minha opinião”, assegura o doutor.
Aniversário do Rei
O médico revela que já comprou o presente que vai levar para o amigo na festa deste dia 23 no Guarujá, litoral de São Paulo: uma garrafa de uísque 18 anos. “Por uma questão de estratégia, o Pelé só vai avisar o local da festa em cima da hora, para evitar tumulto. Para não deixar vazar nenhum detalhe. Só vão participar mesmo os amigos mais chegados e a família. Provavelmente será no Guarujá nesta sexta-feira ou até no sábado”.
O médico acredita que, além de sua festa particular, Pelé ficará muito emocionado com a homenagem que a Fifa lhe prestará em seu canal de TV: Fifa-Sport-10.
“Será uma homenagem mundial. Há duas semanas gravaram no Hotel Emiliano, em São Paulo, o depoimento de vários amigos do Rei”, conta o médico que foi um desses entrevistados, ao lado do cineasta Anibal Massaini, do maestro Ruriá e do seu secretário Pepito. “Com certeza o Manoel Maria estará presente na festa, ele que também contou várias histórias para a TV Fifa”.
O doutor garante que a homenagem da Fifa será absurda de tão emocionante.
“Será digna do Pelé. Sei de alguns detalhes, mas não posso contar para não estragar a surpresa. No fim da entrevista, me perguntaram como eu definiria o Pelé com uma só palavra e eu defini: Generosidade!”