REDAÇÃO GALILEU
Quatro orangotangos e cinco bonobos foram imunizados com uma fórmula experimental. Em janeiro, zoológico teve oito casos da doença entre gorilas
Quando oito gorilas do Zoo Safari Park de San Diego, nos Estados Unidos, testaram positivo para a Covid-19, em janeiro de 2021, a equipe responsável pelos animais ficou particularmente assustada. Na natureza, eles são menos de 5 mil; no zoológico norte-americano, passam muito tempo em espaços fechados. O temor, portanto, era só um: que a infecção se propagasse e trouxesse um risco adicional para os primatas já ameaçados de extinção.
À época, a diretora do Departamento de Conservação e Saúde de Vida Selvagem do zoológico, Nadine Lamberski, acompanhava de longe a vacina experimental para animais desenvolvida pela farmacêutica Zoetis, em Nova Jersey. Embora o imunizante não tivesse sido elaborado para macacos – o produto se provou eficaz em testes com cães e gatos –, a veterinária não hesitou em sugerir: por que não fazer dos gorilas os primeiros animais a receberem a vacina?Se aceita, a experiência não seria incomum. Na verdade, com as devidas autorizações regulamentares e a pedido de veterinários, imunizantes desenvolvidos para uma espécie são frequentemente administrados em outras. À National Geographic, Lamberski explicou que, em San Diego, por exemplo, vacinas elaboradas para cães e gatos são aplicadas em tigres e leões. Os macacos também já receberam imunizantes contra a gripe e sarampo originalmente testados em humanos.
Assim, em fevereiro deste ano, a ideia saiu do papel: quatro orangotangos e cinco bonobos do Zoológico de San Diego se tornaram os primeiros animais a receberem uma vacina experimental contra a Covid-19. Entre eles, Karen, o primeiro primata no mundo a fazer uma cirurgia de coração aberto, em 1994. “Ao longo de minha carreira, nunca tive acesso a uma vacina experimental tão cedo e um desejo tão grande de querer usar uma”, disse a veterinária à publicação.Segundo Lamberski, os primatas não tiveram reações adversas e passam bem. Nos próximos dias, exames de sangue revelarão se a vacina foi eficaz, isto é, se os animais – que vivem em uma zona separada no zoológico – desenvolveram anticorpos contra o novo coronavírus. Os macacos que contraíram o vírus em janeiro, por sua vez, serão imunizados entre 60 e 90 dias após a infecção. A vacinaSemelhante à vacina da Novavax, o imunizante desenvolvido pela Zoetis apresenta proteínas parecidas com aquelas encontradas na superfície do novo coronavírus (as chamadas “spike”), que, em contato com o corpo, treinam o sistema imunológico para lidar com o vírus. Ao contrário da primeira, no entanto, o produto foi elaborado especificamente para uso animal.
Agora, em meio ao crescente número de mortes dos visons, a farmacêutica, que também fabrica vacinas para doenças respiratórias infecciosas caninas e o vírus da leucemia felina, tem um novo alvo para os seus testes – e eles já começaram. Não sem motivo: casos de Covid-19 entre os pequenos mamíferos foram identificados em pelo menos seis países ao redor do mundo. O surto mais grave aconteceu na Dinamarca que, no final do ano passado, ordenou a eliminação de 17 milhões deles. Os animais se provaram capazes de transmitir a infecção para outros de sua espécie – e, possivelmente, para humanos.
Fonte: Revista Galileu