Mulher da etnia kokama é primeira pessoa enterrada no cemitério destinado a indígenas
Lívia Marinho Yahuri Kokama, 21 anos, é a primeira pessoa sepultada no Cemitério Indígena, localizado no bairro Tarumã, zona Oeste de Manaus. A jovem indígena faleceu após uma parada cardíaca, em decorrência de uma doença recém-diagnosticada chamada de hipertireoidismo. O sepultamento, que ocorreu nesta sexta-feira, 20/5, foi marcado por muita emoção. O secretário da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp), Altervi Moreira, acompanhou o enterro.
“Estamos acompanhando o primeiro sepultamento no cemitério indígena, que foi a determinação do prefeito David Almeida, dar um espaço digno para os povos indígenas enterrarem seus entes queridos. Meus sinceros sentimentos aos indígenas de Manaus”, declarou o secretário da Semulsp, Altervi Moreira.
Doença
O cacique Val Kokama, pai da vítima, conta que a Lívia foi diagnosticado com a doença após o nascimento da primeira filha, mas não conseguiu concluir o tratamento. Lívia deixou duas filhas, uma de dois anos e a outra de quatro.
“Livia sempre foi uma excelente filha. Ela gostava de artesanato e de dançar. Nesta semana ela colocou duas pulseiras de cipó em seu braço e falou que isso dava orgulho. Ela preservava a cultura, amava ser Kokama e em ser a nossa filha”, declarou.
Orgulho
O cacique fala do orgulho de ter sido sepultado no primeiro cemitério indígena urbano do Brasil. “Pediram para eu escolher outro local, mas eu queria que fosse aqui. Nós lutamos para ter um lugar assim em Manaus, um lugar adequado para podermos descansar em paz com o nosso Deus. Esse cemitério representa luta, vitórias e conquistas”.
A coordenadora dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), Marcivânia Sateré-Mawé, declarou que os povos indígenas estão em luto pela morte da jovem.
“A morte de Lívia deixou todos surpresos. A família sempre lutou muito pela comunidade. Nos solidarizamos aos parentes Kokamas, que são o maior número da cidade de Manaus. Lívia e sua família acompanhou de perto a construção do cemitério indígena”, destaca.
Tenório Telles, presidente do Conselho Municipal de Cultura (Concultura), destacou que este é um momento comovedor, de retorno de Lívia Kokama ao originário. “Agora, ela tem um lugar adequado para o seu descanso. O Cemitério Indígena de Manaus será o campo-santo e o espaço sagrado onde as populações Indígenas de Manaus poderão velar e guardar seus mortos”.
Primeiro cemitério indígena urbano do Brasil
“Yane Ambiratá Rendáwa Bara Upé”, a “Casa de Retorno”, é o primeiro cemitério indígena urbano do Brasil e foi inaugurado pelo prefeito David Almeida, no dia 19 de abril, data em que se celebra o “Dia dos Povos Indígenas”. O cemitério representa mais que um espaço dedicado a rituais e cerimônias de passagem aos mais de 20 mil indígenas que vivem na cidade e seus arredores, mas o reconhecimento da pluralidade dos povos.
O diretor-presidente da Fundação de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), Alonso Oliveira, declarou que o cemitério indígena é um espaço para que a memória ancestral seja cultuada.
“Este espaço é fruto de um trabalho integrado de diversas secretarias com o aval do prefeito David Almeida, além disso, é forma de reconhecimento aos primeiros habitantes da nossa terra”, ressalta.
Texto e fotos: Rebeca Mota/ Semulsp