Amazonas enfrenta a preocupação com o aumento de casos da Covid-19. Mas outro problema vem chamando atenção de profissionais de saúde na cidade: o risco da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Em períodos chuvosos, registrados para o primeiro trimestre deste ano em Manaus, é comum que outros vírus também possam causar a doença.
A SRAG é causada por diferentes vírus respiratórios, como Metapneumovírus, Vírus Sincicial Respiratório (VSR), Adenovírus, Influenza A (H1N1) e a Influenza B. A dificuldade para respirar é o que é mais recorrente nos pacientes, mas também pode vir com febre e em seguida um quadro viral recém-instalado.
Além destes, outros agentes podem influenciar no aumento de casos da síndrome, como a bactéria Streptococcus pneumoniae, causadora da pneumonia bacteriana, e Mycobacterium tuberculosis, o Bacilo de Koch, que causa tuberculose.
A situação está relacionada à falta de oxigenação para os pulmões, resultando em um líquido acumulado Na região, afirmou a infectologista Ana Galdina.
“É um quadro em que há a impossibilidade de troca da oxigenação. O sangue que passa no pulmão não consegue ser oxigenado e parte daquele líquido acumula no pulmão causando um aspecto que é o ‘pulmão de sofrimento respiratório agudo”, disse.
Até a semana epidemiológica 50 (12 de dezembro), o estado do Amazonas, possuía 15 casos confirmados de Síndrome Respiratória Multissistêmica Pediátrica/ SIM-P associada temporalmente à Covid-19. O primeiro caso confirmado de SIM-P no Amazonas, foi notificado pelo PSC da Zona Oeste em 24 de setembro de 2020.
SRAG e Covid-19
A diretora-presidente da FVS-AM, Rosemary Costa Pinto, alerta que os vírus respiratórios continuam circulando no Amazonas e podem ser confundidos com Covid-19 por causarem, no organismo humano, os mesmos sintomas iniciais que a infecção pelo novo vírus.
“Nos próximos meses, nós certamente teremos o aumento da circulação desses vírus que coexistirão com o novo coronavírus. Em função disso, nós estamos ampliando o escopo de diagnósticos desses vírus respiratórios”, afirmou Rosemary.
Em setembro, foram registradas 1.402 hospitalizações por SRAG no estado, sendo 1.088 por covid-19 e outras 314 por outros agentes.
Faixa etária e período chuvoso
Na última sexta-feira (8), o Instituto de Saúde da Criança do Amazonas (Icam), registrou 15 crianças com SRAG, sendo 12 delas afetadas pelo coronavírus e outras três por vírus respiratórios, com idades que variam de um mês a 16 anos.
Apesar do alerta para pais sobre os cuidados com o público infantil, para evitar a transmissão da doença, a doença não ocorre em uma única faixa etária.
“Essa síndrome pode ocorrer em qualquer faixa etária, desde um recém-nascido até o idoso, no cenário atual a principal causa é de motivo viral e com grande prevalência da Covid-19, mas nesse período em nossa região temos esse caso por outros vírus”, pontuou Galdina.
Já para a médica pediatra Monica Rocha, o período chuvoso colabora com a proliferação do vírus, principalmente em regiões tropicais e subtropicais onde a temperatura oscila e favorece a infecção.
“Embora possa ocorrer em qualquer idade, as crianças e gestantes são especialmente acometidas. É uma doença sazonal de ocorrência anual. O clima frio e úmido é uma condição importante para o início da epidemia, favorecendo a capacidade de o vírus sobreviver e se espalhar. Nas regiões tropicais e subtropicais a temperatura oscila pouco e a umidade constante favorece a infecção durante todo o ano”, afirmou.
Sintomas e Cuidados
A SRAG é uma complicação da Síndrome Gripal (SG). A SG é caracterizada por, pelo menos, dois dos seguintes sinais e sintomas: febre (temperatura maior que 37,8 ºC) ou sensação de febre, calafrios, dor de garganta, tosse, nariz escorrendo (coriza) a alterações no olfato ou no paladar.
Já a SRAG é caracterizada pelos sintomas da Síndrome Gripal (SG) associados a, pelo menos, um dos seguintes sintomas: falta de ar ou desconforto para respirar, sensação de pressão no peito e saturação de oxigênio abaixo de 95%.
A pediatra infectologista da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT- HVD), Solange Dourado, alerta que os cuidados devem ser os mesmos utilizados para conter a pandemia de Covid-19, sem aglomeração e principalmente o uso de máscaras e álcool em gel.
“Os cuidados são os mesmos anunciados para se evitar coronavírus. Não aglomerar em especial em espaços fechados. Atualmente uso de máscaras em crianças acima de dois anos. Uso do álcool gel. Não esquecer que estando com o cartão vacina em dia a criança está mais protegida contra doenças que podem levar a queda da imunidade como sarampo” afirmou.
Caso não seja prevenida, devido a pouca circulação de oxigênio no sangue, a doença pode resultar em uma situação mais grave, como complicações neurológicas sérias e até mesmo levar a óbito.