Filhos de Verônica Ferreira, de 73 anos, que morreu de Covid-19, vão a enterro da mãe em um cemitério de Manaus no dia 31 de dezembro. — Foto: Bruno Kelly/Reuters
Manaus bateu o triste de recorde de enterros diários desde o início da pandemia: foram 144 pessoas sepultadas apenas neste domingo (10). Delas, 62 tiveram a causa confirmada para Covid-19.
A última vez que a capital amazonense teve tantos enterros em um único dia foi em 26 de abril, quando foram registrados 140 sepultamentos. Na época, Manaus enfrentava a primeira onda da Covid-19, que lotou hospitais e cemitérios, e, por conta do colapso, teve caixões enterrados em valas coletivas.
Só para dar uma ideia da dimensão da crise sanitária, no dia 11 de dezembro o número de enterros na capital foi 41, sendo 6 sepultamentos de vítimas de Covid-19.
Atualmente, Manaus voltou a enfrentar um surto de Covid-19 e o “cenário de guerra”, como descreveu uma médica, é visto mais uma vez nos hospitais. Apenas nos nove primeiros dias de janeiro, o número de novas internações superou o total de todo o mês de dezembro.
Neste domingo (10), segundo boletim da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), foram confirmados 965 novos casos de Covid, e o total de infectados chegou a 213.961. O número de mortes subiu para 5.701, com 22 óbitos ocorridos nas últimas 24h e 10 confirmados após investigação.
Enterros diários
Neste domingo, pelo quinto dia consecutivo, Manaus registrou mais de 100 enterros diários. De acordo com a Prefeitura de Manaus, dos 144 sepultamentos deste domingo, 105 foram nos espaços públicos e 39 em cemitérios particulares. Entre as causas das mortes, 62 foram confirmadas para Covid.
Em 15 dias, do final de dezembro para o início de janeiro, a média de enterros diários teve um aumento de 80%. Uma médica disse ao G1 que, com a lotação nos hospitais, os profissionais precisam escolher “quem vive e quem morre”.
Número de novas internações por Covid em Manaus supera todo o mês de dezembro
Lotação no sistema de saúde
Os hospitais de Manaus voltaram a lotar por conta do novo surto de Covid. Em um pronunciamento nas redes sociais, na sexta-feira (8), o governador Wilson Lima disse que, apesar da ampliação de 134% na quantidade de leitos, “o nosso sistema de saúde está muito próximo do limite de sua capacidade”.
O governo informou neste domingo que, em três dias, o Hospital de Campanha Nilton Lins deve ser reaberto apenas para atendimento a casos de Covid. O Ministério da Saúde também lançou um processo seletivo para contratar profissionais para atuação em Manaus.
Governo do Amazonas anuncia a reabertura de hospital de campanha
Comércio fechado por 15 dias
O decreto que proíbe o funcionamento de todos os estabelecimentos comerciais e serviços não-essenciais no estado do Amazonas pelo período de 15 dia foi publicado na segunda-feira (4), pelo governador Wilson Lima.
Além do comércio não essencial fechado, restaurantes só podem funcionar para delivery e estão proibidas festas e reuniões. As medidas são válidas até o dia 17 deste mês e estão previstas interdições e multas diárias de até R$ 50 mil.
Lima já tinha tentado fechar, sem sucesso, o comércio no estado. Ele havia publicado um decreto que impedia atividades consideradas não-essenciais que entraria em vigor em 26 de dezembro. No entanto, uma multidão foi às ruas para protestar contra o fechamento das lojas.
Multidão faz protesto no Centro de Manaus contra novo fechamento do comércio
Com a pressão exercida pelos comerciantes, o governador recuou e liberou o funcionamento das atividades não essenciais, com apenas algumas restrições de horário.
Porém, como o número de mortes continuou batendo recordes no Estado, a Justiça determinou a suspensão total das atividades, em uma decisão que autoriza, inclusive, o uso de forças policiais para que a ordem fosse mantida.
Para tentar amenizar a crise econômica provocada pela pandemia, Wilson Lima anunciou um pacote de crédito a partir do próximo dia 11 de janeiro. Segundo ele, serão disponibilizados R$ 140 milhões no total, com auxílios entre R$ 500 e R$ 100 mil.