Decisão era esperada pelo mercado, que prevê estabilidade da taxa básica de juros até o fim de 2024. Lula elevou o tom das críticas contra o Banco Central nos últimos dias, em queixa contra a taxa de juros.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (19), manter a taxa Selic em 10,50% ao ano.
A decisão foi unânime. Ou seja, todos os diretores do Copom e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, votaram para manter a Selic no atual patamar. Isso também significa que todos os quatro diretores indicados por Luiz Inácio Lula da Silva votaram de forma diferente do que pensa o presidente, que nos últimos dias subiu o tom contra o BC e defendeu corte nos juros.
A decisão desta quarta representa o fim de um ciclo de cortes da taxa básica de juros, que começou a recuar em agosto de 2023. Nesse período, foram sete quedas seguidas. A Selic estava em 13,75% ao ano no começo do ciclo.
O Copom justificou que o cenário da inflação ainda exige cuidados e não justifica uma mudança na taxa de juros.
“Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada”, afirmou o comunicado do Copom.
Os fatores que pressionam a inflação são tanto domésticos quanto internacionais, segundo o Copom.
“O comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária”, continuou o comitê.
Com a decisão de hoje de não cortar a Selic, o BC mudou de postura.
Ao permanecer em 10,50% ao ano, a taxa segue no menor nível desde fevereiro de 2022, quando estava em 9,25% ao ano.
Quem participa do Copom?
O Copom é formado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e por oito diretores da autarquia.
A Selic é o principal instrumento de política monetária utilizado pelo BC para controlar a inflação. A taxa influencia todas as taxas de juros do país, como as taxas de juros dos empréstimos, dos financiamentos e das aplicações financeiras.
Ataques de Lula
A reunião desta semana ocorreu em meio a críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — que subiu o tom das críticas ao tamanho da taxa de juros.
“Só temos uma coisa desajustada neste país: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Presidente que tem lado político, que trabalha para prejudicar o país. Não tem explicação a taxa de juros estar como está”, declarou Lula nesta terça-feira (18), em entrevista à rádio CBN.
O Banco Central não se manifestou sobre as declarações do presidente Lula.
Expectativa do mercado
Desde a semana passada, o mercado financeiro deixou de estimar um corte na taxa básica de juros na reunião do Copom de junho. Até então, as instituições financeiras projetavam uma redução de 0,25 ponto percentual no juro básico, para 10,25% ao ano — estimativa que foi abandonada.
O relatório “Focus”, divulgado nesta segunda-feira (17) pelo Banco Central, ouviu mais de 100 instituições financeiras, na semana passada, sobre as projeções para a economia.
O resultado mostrou que a maioria dos bancos também deixou de estimar corte nos juros no restante deste ano. A projeção é que a taxa fique estável em 10,50% ao ano até o fim de 2024.
Reuniões restantes em 2024
O Copom costuma se reunir a cada 45 dias para definir o patamar da Selic. Em 2024, o colegiado vai se reunir mais quatro vezes:
- 30 e 31 de julho
- 17 e 18 de setembro
- 5 e 6 de novembro
- 10 e 11 de dezembro
Racha em maio
Na reunião anterior, o Copom foi palco de uma divisão sobre o futuro da taxa de juros.
Os quatro diretores indicados por Lula votaram por um corte mais acentuado na Selic. Eles opinaram pela redução em 0,5 ponto percentual. Mas venceu a queda de 0,25 ponto percentual.
No fim de março, o BC havia sinalizado que promoveria uma nova redução de 0,5 ponto percentual em maio, mas isso não se concretizou. Foi quando o comitê passou a dizer que é necessário “serenidade e moderação na condução da política monetária”.
O BC tem de autonomia em sua atuação, sendo que o atual presidente, Roberto Campos Neto, com mandato até o fim de 2024, foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A instituição diz que seu papel, na fixação da taxa de juros, é técnico, e busca conter a inflação.
Campos Neto tem lembrado que o BC subiu os juros em 2022, ano eleitoral. Também avaliou que os juros são altos no Brasil porque a dívida é alta. “A gente não pode confundir causa e efeito”, disse, em 2023.
Como as decisões são tomadas
Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas de inflação, o Banco Central olha para o futuro, e não para a inflação corrente, ou seja, dos últimos meses.
Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia. Neste momento, a instituição já está mirando na meta deste ano, e também para o segundo semestre de 2025 (em doze meses).
A meta de inflação deste ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%;